05/10/2022

H. EM BUSCA DELFIM - 131 (primeiras sete estrofes)

 

131

 



Por o meio-dia de indeterminado dia,
vi crianças fascinadas por a condução de catrapilos.
Era na minha rua-infante, viver não pesava quilos.
Era nas quatro-estações, um verão-por-dia.

Hoje ainda assisto a tais dúcteis manobras.
Admiro a eficiência dos que trabalham (nas) obras.
O mesmo (in)tento fazer, sim eu, que já por lá andei:
dei serventia a pedreiros &, como oficial, pintei.

Por a mediana tarde de dia duro de caloraça,
rimo as minhas merditas de pouca graça.
Sei mui pouco – e, demais & aliás, quanto sei,
dei às pombas & aos pardais, que mais não aproveitei.

Estou com’outrora senhor meu Pai dizendo:
– Velhotes, trato-os eu por ’inda rapazes.
D’envelhecer bem nem todos são (somos) capazes.
Na velhice minha, meu Pai renascendo.

Cuido de versejar sem mor ofensa
a costumes & a leis consuetudinárias.
Sinto bem mais em eu do que em mim pensa.
Há mais gente do que pessoas (& alimárias).

Sejam, breve, as quatro da tarde? Descuido.
Digam-me por e-mail o e-mal pernicioso?
Eu ando em amargura, mas algo gozo:
ter sido infante que fui, sim fui do

Clube de Futebol União de Coimbra (2.6.1919),
fui (& sou) de minha Mãe & de meu Pai.
Hoje, a estiagem perpétua, nada chove
– & eu ir-me-ei depois daqui sem dar um ai.




03/10/2022

H. EM BUSCA DELFIM - 130




130

 



Mãe que não reverei senão em verso:
concebeste-me sem pecado: o Universo.
Pai que não reterei na paz dominical:
condenaste-me a teu nome & a Portugal.

Se Vos recrimino? Nem de tal sombra!
Vejo-Vos ossadas & beijo-Vos, ossadas.
Pouco me espanta ora, pouco me assombra:
sou filho de Vós-dois-tudos-pequenos-nadas.

Escrebebo, meus Pais, sob esta tília.
A V.ª morte me fez órfão de família.
Os resto-circunstantes? À vidinha.
A deles, a que é a deles. A minha é minha.




Canzoada Assaltante