Dez contas do
meu/Vosso Rosário
1 Foi a 25 de Maio de
2007 que vi aqui publicada, neste mesmo bravo jornal de última aldeia gaulesa,
a primeira crónica desta série Rosário (afinal
não) Breve. Dez anos limpinhos. O
Tempo é lixado. Uma década mais brusca e menos luminosa do que um fósforo
lixado também. Assim num instantinho.
2 E depois? Quero o
quê com ou de tal efeméride? Foguetório? Boné de louros? Jaculatórios
espumantes? Quero nada. Eu, nada. Mas a Câmara pode ser que queira alguma coisa.
Em que aspecto?
3 Pode ser que queira
alguma coisa no aspecto de me patrocinar a publicação de uma antologia daquelas
crónicas em que disse mal do Moita Flores, que foram todas as que o tiveram por
visado. Essas – e mais aquelas em que disse bem do Ricardo Gonçalves, que até
ao momento são nenhumas mas que podem muito bem vir a ser algumas, caso a coisa
seja falada bem faladinha numa almoçarada à conta da minha proverbial
imparcialidade e das despesas de representação, sei lá. Até ao Outubro das
urnas, temos tempo.
4 E esse tempo pode
não ser lixado como o outro. Eu sei, de-ouvir-dizer, coisas tão tremendas da
concorrência, mas tão terríveis, tão esmagadoras, tão incapacitantes – que nem
precisam de ser verdadeiras. Basta que sejam bem gaguejadas. É como digo: temos
tempo. Bem coçadinha, a sarna até pode saber a prolegómeno erótico.
5 Digo isto,
atenção!, sem ser por interesse. Próprio, quero eu dizer. Foi por associação de
ideias, acho eu. Comecei a falar dos dez anos de coiso & tal, e zás!, veio o
dito fósforo a lume de assunto. Mas já que estamos nisto, até que poderia dar
um livreco giro. Parece que estou a pestanejá-lo já: o Moita a preto-e-branco
na contracapa e com a legenda: “Custou
mas foi-se”. E na capa (falsa) o Ricardo a cores, a rir-se muito nem ele
sabe de quê e todo untado de uma vermelhidão de opa de procissão. Não sei. São
cenas a alcavalar bem alcavaladinhas. Nem eu conheço alcavala que não mereça
fala.
6 Dez anos! Não posso
dizer mal deles. Não há Natal em que a caixa de correio me não amanheça pejada
de propostas milionárias de outros jornais (da Cidade e da Região). Respondo
sempre o mesmo: “Sair agora do Real
Madrid para quê?” E depois, ungido de um fácil egocentrismo, miro o meu
busto horrível e palpo-me o priapismo nos calções.
7 Pronto, chega. A 25
de Maio de 2007, a tal primeira crónica intitulava-se Ruínas e Anjos. Primeiro parágrafo dela: “Há um ano (com seus dias e suas noites) que moro numa vila tão
despovoada quão uma cama de viúva séria.”
Ora, antes que, por tua (des)obra, a mesma
viuvez aconteça a Santarém, vai lá pensando no patrocíniozito, Ricardo. De
momento, nada me ocorre, mas ele sempre há-de haver alguma coisita em que
prestes para alguma coisa sem que seja para rir.