Ou estudo ou nada
Licenciei-me
em Letras pela Universidade de Coimbra.
Antes
porém dessa glória que para sempre me distingue, melhora, enobrece & separa
da reles plebe mortal, tive de fazer (uma-duas-três-quatro) a 4.ª Classe do
Ensino Primário – com exame na 3.ª & com exame na 4.ª.
Seguiram-se
os 1.º & 2.º Anos do Ciclo Preparatório. Entrou então em vigor a
nomenclatura da Escolaridade, pelo
que dei por mim cursando (um-dois-três) os 7.º, 8.º & 9.º Anos – com exame
no 9.º.
Por
essa altura, vieram-me chegando, tomando-me sem remédio, o acne & a
estranha consciência da existência do sexo-oposto. Borbulhas & raparigas
cercaram-me (um-dois-três) os Anos 10.º, 11.º & 12.º – com exames no 11.º
& no 12.º. Só depois, finalmente, as Letras, a Universidade, a Glória.
Través
este percurso, dei-me paralelamente a práticas não-obrigatórias & a
trabalhos não-forçados. Pratiquei piano, natação, xadrez, guitarra, andebol,
futebol, acne & raparigas.
Certo
dia, chegou a altura de ir trabalhar. Lá fui. Uns anos, fui professor do Ensino
Secundário. Outros pós-estes, fui jornalista encarteirado. Quando sem saída nem
fim-de-mês, fui pintor da construção civil. Também fui pai de duas meninas,
profissão que nunca é possível trocar por outra impossivelmente mais bem
remunerada. Hoje, que nem a pintura de paredes chama muito, vivo do que ganha a
minha mulher.
O
curso que nunca tirei, Senhores &
Damas, foi o de jota. A minha
universidade não era de Verão. A minha universidade dava trabalho do Outono à
Primavera – e desde a 1.ª Classe. Não encarreirei,
portanto. Nem (me) falsifiquei. Os meus livros, sou eu a escrevê-los.
Sobre
(mais uns) escândalos de licenciaturas falsas, digo nada. Limito-me a ter muita
pena desta gente alérgica ao honesto estudo, desta maltosa impermeável à
qualificação honesta, desta canalha que não sabe nem saberá jamais o que a
Glória faz a um homem.
Que
o diga a senhora minha mulher.
Sem comentários:
Enviar um comentário