Eliot, Cesário,
Diniz & o 31 que O Ribatejo é
O
nosso Jornal perfaz por estes dias a idade que foi terminal para dois vultos
absolutamente maiores da nossa portugalidade: Cesário Verde e Júlio Diniz.
Estes dois rapazes finaram-se com 31-anos-31, idade em que se deveria
florescer, não descer à catacumba. Obstinadamente, O Ribatejo não se propõe morrer – antes sim ( para desgosto antigo
de um Moita de que já ninguém mal se lembra & para desgosto presente de um
Gonçalves que não deixará boa lembrança) renasce a cada aniversário: mesmo que
sem esmoleres capas-falsas. Este periódico continua a ser um trinta-e-um, por assim dizer.
Tenho aqui no bolso,
para a festa aniversária do meu/Vosso Semanário de eleição, a prenda de uns
versos que não são de Cesário nem de Diniz [sim, insisto no Z do Autor da Morgadinha por ser como o próprio (se) assinava]:
«O tempo presente e
o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.»
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.»
Os
versos são de T.S. Eliot (in Quatro Quartetos,
tradução de Gualter Cunha, Ed. Relógio d’Água).
Cuidado:
tenho ainda & aqui mais versos para a mesma festa. Estes é que já não são
de Eliot. São de João Alves Coelho, versejador que, com o compositor José Maria
Pereira (também) Coelho, criou o célebre Fado
do 31:
«Ai… Ólarilolela
Como este não há
nenhum (…)»
E
é que não há. Nenhum. Aos 31 anos de idade, este Jornal continua a não embarcar
em seguidismos acríticos, a não embalar-se de modismos trengos (ou trendy – olá, sô vereador Luís Farinha!), a não ser maria-vai-c’as-outras. O
Ribatejo é eliotiano por saber
que
«Se todo o tempo é
eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.»
Todo o tempo é irredimível.»
Como
irredimível é, por grave e baixo
exemplo, a rábula da Loja do Cidadão
em Santarém, que é mas não há. Como eternamente
presente é, mas não deveria ser, a tragicomédia das Barreiras/Estrada da Estação/Pró-ano-é-que-é-a-culpa-é-do-Tribunal-de-Contas.
Idem-aspas para a lixarada daninha que infesta a Cidade, cujo pecado-capital é
ser capital de nada. Não falo no abstracto. Eliot connosco, se fazeis favor:
«O que podia ter
sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Somente num mundo de especulação.»
Permanecendo possibilidade perpétua
Somente num mundo de especulação.»
Especular é duplamente congeminar e espelhar. Trocadilhando com outro versejador de grandíssima
qualidade, Sérgio Godinho, espelhem a
notícia.
Enfim.
Retornemos à casa-de-partida. O Ribatejo
sopra 31 velas acesas de pura resistência: resistência à sacana da (des)economia,
resistência aos ventos adversos da politiquice, resistência ao desinteresse
acéfalo do rebanho. Mas, felizmente, também as sopra em persistência: em nome
dos que lêem porque pensam & dos que pensam porque, já agora, lêem.
Cá
por mim, tanto leio O Ribatejo como
Eliot:
«O que podia ter
sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.»
Tendem para um só fim, que é sempre presente.»
A
partir desta edição, é já no ano 32 que V. escrevo.
Assim
sendo, e posto tudo isto assim, termino por hoje com esta rima trinta-e-um-mente bela:
«Ólarilolela».
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