20/11/2016

Eliot, Cesário, Diniz & o 31 que O Ribatejo é - Rosário Breve nº 481 - in O RIBATEJO de 17 de Novembro de 2016 - www.oribatejo.pt

Eliot, Cesário, Diniz & o 31 que O Ribatejo é

O nosso Jornal perfaz por estes dias a idade que foi terminal para dois vultos absolutamente maiores da nossa portugalidade: Cesário Verde e Júlio Diniz. Estes dois rapazes finaram-se com 31-anos-31, idade em que se deveria florescer, não descer à catacumba. Obstinadamente, O Ribatejo não se propõe morrer – antes sim ( para desgosto antigo de um Moita de que já ninguém mal se lembra & para desgosto presente de um Gonçalves que não deixará boa lembrança) renasce a cada aniversário: mesmo que sem esmoleres capas-falsas. Este periódico continua a ser um trinta-e-um, por assim dizer.
Tenho aqui no bolso, para a festa aniversária do meu/Vosso Semanário de eleição, a prenda de uns versos que não são de Cesário nem de Diniz [sim, insisto no Z do Autor da Morgadinha por ser como o próprio (se) assinava]:
«O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.»
Os versos são de T.S. Eliot (in Quatro Quartetos, tradução de Gualter Cunha, Ed. Relógio d’Água).
Cuidado: tenho ainda & aqui mais versos para a mesma festa. Estes é que já não são de Eliot. São de João Alves Coelho, versejador que, com o compositor José Maria Pereira (também) Coelho, criou o célebre Fado do 31:
«Ai… Ólarilolela
Como este não há nenhum (…)»
E é que não há. Nenhum. Aos 31 anos de idade, este Jornal continua a não embarcar em seguidismos acríticos, a não embalar-se de modismos trengos (ou trendy – olá, vereador Luís Farinha!), a não ser maria-vai-c’as-outras. O Ribatejo é eliotiano por saber que
«Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.»
Como irredimível é, por grave e baixo exemplo, a rábula da Loja do Cidadão em Santarém, que é mas não há. Como eternamente presente é, mas não deveria ser, a tragicomédia das Barreiras/Estrada da Estação/Pró-ano-é-que-é-a-culpa-é-do-Tribunal-de-Contas. Idem-aspas para a lixarada daninha que infesta a Cidade, cujo pecado-capital é ser capital de nada. Não falo no abstracto. Eliot connosco, se fazeis favor:
«O que podia ter sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Somente num mundo de especulação.»
Especular é duplamente congeminar e espelhar. Trocadilhando com outro versejador de grandíssima qualidade, Sérgio Godinho, espelhem a notícia.
Enfim. Retornemos à casa-de-partida. O Ribatejo sopra 31 velas acesas de pura resistência: resistência à sacana da (des)economia, resistência aos ventos adversos da politiquice, resistência ao desinteresse acéfalo do rebanho. Mas, felizmente, também as sopra em persistência: em nome dos que lêem porque pensam & dos que pensam porque, já agora, lêem.
Cá por mim, tanto leio O Ribatejo como Eliot:
«O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.»
A partir desta edição, é já no ano 32 que V. escrevo.
Assim sendo, e posto tudo isto assim, termino por hoje com esta rima trinta-e-um-mente bela:
«Ólarilolela».

Sem comentários:

Canzoada Assaltante