26/12/2013

Entrada n.º 40 de BAILE SOZINHO ou O INVERNO DE QUELUZ - noite de 10 de Maio de 2013, sexta-feira

40


                                                                                                                                               
                                                         
Aquele homem é lento por causa de uma doença
chamada idade,  acontece muito nesta Cidade.
Queimo a boca de roxo com um cigarro branco.
Apetece-me falar com um amigo, mas não tenho
saldo no telemóvel, é quase tudo 96,
na mocidade era diferente, telefonava-lhes

para casa dos pais, tudo era fixo,
talvez por isso envelhecer seja tão móvel
e tão quieto ao mesmo tempo,
a gente sabe que vai morrer,
afia um lápis mas sabe que vai morrer,
abre-se em livro e depois morre.

Sou muito atento aos ócios preocupados.
As pessoas filosofam nos Cafés a propósito
de coisas como o arroz-doce e o trigo-roxo
e a subserviência e a carreira e os impostos
mas depois na internet borram-se todas,
vê-se-lê-se logo que não sabem escrever.

Eu aqui em Leiria passo muito à porta
da casa onde viveu o Eça-Padre-Amaro,
sinto logo muita pena de mim por causa do naturalismo,
fiz na quarta-feira 49 anos,
coisa que nem o Pessoa nem o Ruy Belo fizeram
mas o Eça sim, o Eça fez tudo em apenas 55, parece mentira.

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Canzoada Assaltante