Uma anedota itálica com mulher
distante só p’ra disfarçar
Que
o senhor Ricardo Araújo Pereira seja melhor contador de anedotas (e melhor
cronista também, já agora) do que eu – não é nem de espantar nem de grande
pólvora descoberta agora. Mas que um senhor Rui Machete o seja, isso já, a mim
me ata dois nós: um na garganta e outro, mais a sul, nas tripas. Nunca tive
especial apetência erótica por virgens, muito menos das ofendidas, como me
parece quer um senhor Rui Machete (a)parecer(-se). “Inexactidão factual” não é, de facto, exacto. É só mentira. É como
dizer “inverdade”. Ou, tratando-se de
pessoa fisicamente cega, chamar-lhe “invisual”-
porque “invisual” é o que se não
vê, invisível portanto, e não quem não vê.
Destes
preciosismos retóricos inventados por bezerros-de-lata chamados Assessores vive a (in)comunicação
(as)social dos nossos tristes dias de tão-mau-tempo-no-canal. Eu até era para
perder mais do meu e do vosso tempo com isto, mas não ceder vou à tentação. É
que, pela galeria onde assentadamente dou escrivão assento a esta crónica
hebdomadária, vai passando um monumento respiratório, todo carne e todo
luz-de-olhos. É uma senhora. Vive e trabalha aqui perto do Café onde
diariamente inscrevo o bolor do meu ócio. Permiti-me Vós que vo-la diga:
Olhar
adjudicado a orçamento de veludos nacionais, tem, por pestanas, aranhas movediças.
O rosto vale por maçã arrebatada, daquela golden que se faz camoesa. Ivóreos
dentes afloram o carmim do lábio quase grosso. Queixo ergonómico tamanho
concha-da-minha-mão. Pescoço que se alabastra em nervura tensa. Pele global de
tensa elasticidade, que dá ganas de morrer tactilmente e de olhos abertos para
não perder um segundo de filme. Peito que vos não digo. A sul do diafragma,
todo um ventre valendo o postal de todo um estuário azul. Coxas de colunar
templos gregos, dentre os que ela um deles. Rótulas de madrepérola por joelhos
que a breve saia roça de comichões de chita. Artelhos de mínima protuberância:
como soluços ósseos de mais espuma que osso. E pés de uma ascendência de asas
ícaras: por mais de cera que de palmípede.
Já
uma vez lhe franqueei a conduta salva da divisória de vidro do Café da Rita.
Pestanejou-me
o óbolo do cavalheirismo.
Fui
fulminadamente feliz no instante mesmo, de onde me resultou evitar a felicidade
alienígena à hora a que a minha senhora esposa volta do trabalho cansada de
tanto-cabrão-no-governo-e-fora-dele.
Não,
não cronicarei, à falta de ser sequer meio Ricardo Araújo Pereira, sobre um senhor
Rui Machete, cujo rosto, aqui há muitos anos (sei-o de cor, juro que sim) o Expresso
descrevia como “suave e civilizado”.
É
figura que me parece elfo já nascido com óculos, como o Harry Potter, à maneira
dos gatos, ou dos ratos, mais fedorentos.
E,
anedota por anedota, inverdade por mentira, semblante que só merece que eu, por
senhor o tratando, o faça sempre em cursivo itálico.
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