Se queres ser gente, chama-te
Bruno
A edição pretérita deste nosso/vosso O Ribatejo assuntava, entre outros temas matrizes da actualidade de
uma região cujas lezírias humedecem à luz como verdes olhos ou esmeraldas
virentes, uma realidade notável. Essa notável realidade chama-se Bruno João,
nascido há três décadas apenas. Vinha a páginas 19, no entrecho do suplemento
especial que a Redacção dedicou a Mação.
Bruno João é rapaz’omem: já fez a tropa, já lhe nasce a
barba, já lhe reluz ao anelar esquerdo a forca de ouro dos matrimónios
consumados. Em cinco colunas e duas fotografias, o jornalista (que não assina,
mas deveria tê-lo feito, por bem feita que a coisa está e fica) revela-nos um
cidadão que não ficou em casa à espera do que e de quem não prometia vir. À
face da terminação da ligação contratual com a Força Aérea e ante o espectro do
desemprego, esse ócio óxido de corpo & alma, olhou-se ao espelho e viu-se reflectido em
barbeiro. Comprou uma carrinha (com gerador, painel solar e tudo), comprou uma
tesoura, comprou uma navalha. As mãos ficaram-lhe de borla desde a nascença. A
vontade de fazer vida trabalhando parece que também. Ei-lo, pois, de aldeia em
aldeia, a períodos certos como a lunaridade feminina e as asneiras do
desGoverno. Tine dextra em sua mão a prata inox da dupla lâmina, desarbustando
o excréscimo capilar do freguês. É cena portuguesa: qual a estridente buzina do
peixeiro ambulante atraindo o mulherio, assim a mornidão parlamentária de todo
o barbeiro atrai os aposentados, que, a pretexto de aparar a grenha, acodem ao
Bruno João como a mariposa à bugia acesa.
Mação, para seu bem (A
Bem de Mação, parafrasearia até), sofre a visita benigna deste profissional
de rosto suave e delicada delineação, a troco de uns trocos que, dourados, lhe
creditam o gasóleo, a atitude e o invencível verniz natural das unhas que
trabalham sem ser por viola, ou guitarra, de cigarra.
Sinopse: Bruno João tem trinta anos. Ficou sem trabalho.
Não se ficou. Ex-militar, aparou por treino o próprio cabelo, primeiro. Depois,
desgraçou com graça e de graça alguns colegas e amigos. Meteu papéis de
matrícula na Escola de Barbearia do Centro de Formação Profissional do
Penteado, Arte e Beleza. Diplomado (sem ser à Sócrates &/ou Relvas), fez-se
à estrada e à vida.
Era a páginas 19 de O
Ribatejo de 4 de Julho pretérito. Aprendi que ser Bruno ajuda muito a ser
gente. O nosso barbeiro é Bruno e João. E fontes as mais fiéis minhas me
garantem que o tal jornalista também é Bruno. E Oliveira.
Leitor: queres assim ou mais curto?
2 comentários:
Quero assim! Mais curto não era este! :)
Sempre bom, ler-te! :)
Tem um bom dia, Mad.
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