11/07/2013

Rosário Breve n.º 317 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt

Se queres ser gente, chama-te Bruno

A edição pretérita deste nosso/vosso O Ribatejo assuntava, entre outros temas matrizes da actualidade de uma região cujas lezírias humedecem à luz como verdes olhos ou esmeraldas virentes, uma realidade notável. Essa notável realidade chama-se Bruno João, nascido há três décadas apenas. Vinha a páginas 19, no entrecho do suplemento especial que a Redacção dedicou a Mação.
Bruno João é rapaz’omem: já fez a tropa, já lhe nasce a barba, já lhe reluz ao anelar esquerdo a forca de ouro dos matrimónios consumados. Em cinco colunas e duas fotografias, o jornalista (que não assina, mas deveria tê-lo feito, por bem feita que a coisa está e fica) revela-nos um cidadão que não ficou em casa à espera do que e de quem não prometia vir. À face da terminação da ligação contratual com a Força Aérea e ante o espectro do desemprego, esse ócio óxido de corpo & alma,  olhou-se ao espelho e viu-se reflectido em barbeiro. Comprou uma carrinha (com gerador, painel solar e tudo), comprou uma tesoura, comprou uma navalha. As mãos ficaram-lhe de borla desde a nascença. A vontade de fazer vida trabalhando parece que também. Ei-lo, pois, de aldeia em aldeia, a períodos certos como a lunaridade feminina e as asneiras do desGoverno. Tine dextra em sua mão a prata inox da dupla lâmina, desarbustando o excréscimo capilar do freguês. É cena portuguesa: qual a estridente buzina do peixeiro ambulante atraindo o mulherio, assim a mornidão parlamentária de todo o barbeiro atrai os aposentados, que, a pretexto de aparar a grenha, acodem ao Bruno João como a mariposa à bugia acesa.
Mação, para seu bem (A Bem de Mação, parafrasearia até), sofre a visita benigna deste profissional de rosto suave e delicada delineação, a troco de uns trocos que, dourados, lhe creditam o gasóleo, a atitude e o invencível verniz natural das unhas que trabalham sem ser por viola, ou guitarra, de cigarra.
Sinopse: Bruno João tem trinta anos. Ficou sem trabalho. Não se ficou. Ex-militar, aparou por treino o próprio cabelo, primeiro. Depois, desgraçou com graça e de graça alguns colegas e amigos. Meteu papéis de matrícula na Escola de Barbearia do Centro de Formação Profissional do Penteado, Arte e Beleza. Diplomado (sem ser à Sócrates &/ou Relvas), fez-se à estrada e à vida.
Era a páginas 19 de O Ribatejo de 4 de Julho pretérito. Aprendi que ser Bruno ajuda muito a ser gente. O nosso barbeiro é Bruno e João. E fontes as mais fiéis minhas me garantem que o tal jornalista também é Bruno. E Oliveira.

Leitor: queres assim ou mais curto?

2 comentários:

Malena disse...

Quero assim! Mais curto não era este! :)

Sempre bom, ler-te! :)

Daniel Abrunheiro disse...

Tem um bom dia, Mad.

Canzoada Assaltante