HSC, 10 de Novembro de 2005, 5ª feira, 6h10
Em vão desejei que os maus sonhos me não impedissem a segura navegação do sono. Ainda não são seis e meia da madrugada e já estou de olho vivo. Sonhei que me roubavam na Madeira durante um jogo entre o Nacional e o Braga. O Nacional ganhava 1-0 e eu perdia a paciência com um gajo e uma gaja que insistiam em me vasculhar a mochila à cata de bens revendáveis para a droga. Depois, S. estampava-se de carro contra o dinheiro que ia custar arranjá-lo (ao carro e ao dinheiro). Eis-me agora, pois, a esta hora lamentável, sentado na sanita para ter luz de escrita. Comi meia maçã no escuro, ouvi um trecho de sinfonia. Venha um cigarro e que Deus me dê lume sem me queimar de todo. (E já que estou assim sentado, adianto o outro serviço matinal. Raios partam os pesadilhos noctcórneos!)
Mesma manhã, 7h31
Não alinho na expressão – “Se eu soubesse o que sei hoje…”. Porque, se eu soubesse, então, o que sei hoje, que piada teria tido a vida tida entretanto então? Nenhuma. A mesma piada alguma que teria já saber hoje o que me falta saber amanhã ainda. Isto é, aprender. Aprender a viver, por exemplo.
Mesma manhã, 8h01
O Artistonitólogo acaba de dar um pão a um canito dos que cirandam pelo Hospital. E uma dose de manteiga à gata Benfica. Cão e gata sabem viver. Também eles. Sobretudo eles.
Mesma manhã, 8h25
ZA, invalidado por longos abus’anos de álcaro, amanhece no chão de madeira da enfermaria dupla reservada aos incapacitados de autolocomoção. Caiu da cama. Está enregelado. Por roupa única, a fralda descartável: parece um cristo mijado e frígido. Ajudo a levantá-lo do chão com o jovem HM. Pomo-lo na cama: bebé tóxico, cinquentão.
Fim da manhã, 11h44
PB, da Figueira da Foz. Toxinitólogo. Estoirou milhares de notas, próprias e do pai. Relacionou-se seis anos com “um amor que lhe chegou de Lisboa com a escola da droga toda”. Perderam a vida de um bebé de quatro meses. Heroína e coca defumadas como chouriços brancos. Miséria. Vontade de renascer, porém. O amor (ela) pisgou-se. Ouço a conversa entre P e J, ambos toxis. Ambos vivos.
Tarde, 14h39
Em vão desejei que os maus sonhos me não impedissem a segura navegação do sono. Ainda não são seis e meia da madrugada e já estou de olho vivo. Sonhei que me roubavam na Madeira durante um jogo entre o Nacional e o Braga. O Nacional ganhava 1-0 e eu perdia a paciência com um gajo e uma gaja que insistiam em me vasculhar a mochila à cata de bens revendáveis para a droga. Depois, S. estampava-se de carro contra o dinheiro que ia custar arranjá-lo (ao carro e ao dinheiro). Eis-me agora, pois, a esta hora lamentável, sentado na sanita para ter luz de escrita. Comi meia maçã no escuro, ouvi um trecho de sinfonia. Venha um cigarro e que Deus me dê lume sem me queimar de todo. (E já que estou assim sentado, adianto o outro serviço matinal. Raios partam os pesadilhos noctcórneos!)
Mesma manhã, 7h31
Não alinho na expressão – “Se eu soubesse o que sei hoje…”. Porque, se eu soubesse, então, o que sei hoje, que piada teria tido a vida tida entretanto então? Nenhuma. A mesma piada alguma que teria já saber hoje o que me falta saber amanhã ainda. Isto é, aprender. Aprender a viver, por exemplo.
Mesma manhã, 8h01
O Artistonitólogo acaba de dar um pão a um canito dos que cirandam pelo Hospital. E uma dose de manteiga à gata Benfica. Cão e gata sabem viver. Também eles. Sobretudo eles.
Mesma manhã, 8h25
ZA, invalidado por longos abus’anos de álcaro, amanhece no chão de madeira da enfermaria dupla reservada aos incapacitados de autolocomoção. Caiu da cama. Está enregelado. Por roupa única, a fralda descartável: parece um cristo mijado e frígido. Ajudo a levantá-lo do chão com o jovem HM. Pomo-lo na cama: bebé tóxico, cinquentão.
Fim da manhã, 11h44
PB, da Figueira da Foz. Toxinitólogo. Estoirou milhares de notas, próprias e do pai. Relacionou-se seis anos com “um amor que lhe chegou de Lisboa com a escola da droga toda”. Perderam a vida de um bebé de quatro meses. Heroína e coca defumadas como chouriços brancos. Miséria. Vontade de renascer, porém. O amor (ela) pisgou-se. Ouço a conversa entre P e J, ambos toxis. Ambos vivos.
Tarde, 14h39
(para Cesário Verde)
Ó poeta formoso ó dos formosos poemas
Luz do estrelado azeite leite do gás dos sistemas
Como raros raro foste luminoso alveolar
Língua nossa tua toda impossível de imitar.
Luz do estrelado azeite leite do gás dos sistemas
Como raros raro foste luminoso alveolar
Língua nossa tua toda impossível de imitar.
Mesma tarde, 15h00
Com o retomado camarada de fevereiro passado, o CMS, conversas moles de lagartos solarengos. Eu, na esperança (dúbia) de poder passar o fim-de-semana em casa (Botulho, Tondela). A ver. A viver. A escreviver.
3 comentários:
E recentemente visto, o "Shinning", do Stanley Kubrik, e "The Constant Gardener". Dois grandes realizadores, dois grandes desempenhos (Jack Nicholson, ainda novo, no primeiro, e Ralph Fiennes, no segundo), dois grandes filmes. Este último, adaptação da obra homónima do "espião" John LeCarré... que diz o Gil, nem sequer é grande coisa, o livro. Ele há adaptações assim!
Recentemente re-lido: "Confissão de Lúcio", "A estranha morte do prof. Antena", "Loucura", Sá-Carneiro. E na mesma onda (e na mesma "Alma Azul"), "O alienista", do Machado de Assis. Dois grandes mestres, escritores gigantes. Os filhos da mãe escrevem bem que até chateia. É ou não é verdade? De vez em quando, regresso a eles.
Referir (porque me esqueci) que o "The Constant Gardener" é relaizado pelo brasileiro Fernando Meirelles (o Sr. do "A cidade de Deus", também altamente recomendável). O filme é falado na lingua inglesa.
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