29/11/2005

O Cedro e a Lua - IX - 11 de Novembro de 2005

HSC, 11 de Novembro de 2005, 6ª feira, 7h21

Dia de S. Martinho, parece. Despertei sem retorno às 5h50. Tudo bem. O dia anunciou-se no estore que a auxiliar se esqueceu de fechar à chave. Puxei-o: era o dia novo, eram os primeiros pássaros. As janelas trancadas que guardam a camarata aquecida não impediram a visão do vento penteando os cedros, as tangerineiras, os mansos pinheiros do hospital dos louc’omens. Espero agora a abertura da porta para descer à rua, onde passearei, veja-se, uma espécie de alegria.

Mesma manhã, 10h24

Uma espécie de alegria, pois por que não, sim? Ouvi música pelo discman, passeei todo aeróbico em roda quadrilátera dos pavilhões 1, 2, 3. Fumei um eficiente par de cigarros. O desjejum fora uma banana e a polpa de uma maçã. Dois copos de água valentes. Limpeza, desinfecção, desinfestação: sou um novo homem velho. Luto com a memória, ajudado pela experiência e pela paroxetina. O CMS e o CMM (também do internamento februário, regressou à base) estão comigo ao sol no terraço. Como se fora, ainda ou já, Fevereiro. Como se fôramos nossos mesmos filhos. O futuro de então era então isto. Mas quê? Tenho livros para ler (mais Luiz Pacheco – Textos de Guerrilha, 1ª e 2ª Séries – e mais muito outro autor). Que se trame a tram(p)a e enrede a rede. A vida segue.

Mesma manhã, 11h40

Chama-se, como a minha filhinha mais nova, T. Tem 40 anos e uma menina de dez. Anda há anos tentando descartar-se das malhas da heroa e da coca fumadas. Tem olhos emoldurados de ovos tristes, de pesadumbre tóxico. Não faz pena: faz só pen(s)ar. E este “só” é tanto.

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Canzoada Assaltante