29/10/2019

CADERNETA PRETA - 2






2. Jus aos Nomes

a) Quarta-feira, 23 de Outubro de 2019



Instantes há em que a ilusão da a-temporalidade me toma conta da casa, planando no ar restrito da respiração, de móvel a móvel, a imaginária imobilidade. Mal, não faz – nem bem. Um marulhar de segmentos vocabulares, pedacitos de talvez-versos, música intransmissível a outros humanos – que aliás nem há. É todavia de autoritária natura que as horas recuperem terrenos que aliás nem houveram (por) perdido. Os nomes voltam, as gaiolas transparentes da mente rangem, referências impõem sua efectividade: a panela com sopa da véspera, o café velho, o pão já não muito novo, o pedaço de toucinho ganhando amarelidão. E a casa pronta para mais instantes no tempo que, vindo mais, se faz menos sem remédio.

No Reino Unido, trinta e nove clandestinos encontrados mortos num camião que dizem provindo da Bulgária: o alegado sonho ocidental, encontraram-no de olhos fechados. Hordas de gente demandando o graal capitalista da velha Ilha. Esquerda & Direita atiram-se sacadas de estrume aos respectivos focinhos. Bocejo ao meio-dia & picos. Fiz café fresco, torrei umas lâminas de pão, a luz da quarta-feira é adoradamente macilenta, faz bem consultar os longes salpicados de brinquedos: casitas, vias rurais, mansidão de mula daquela ponte, observatório, mata nacional, curro hipercomercial, bandidagem obsoleta, autocarros às moscas, moscas de autocarro. Aqui, sala, cozinha.

Sala, cozinha, quarto, retrete, banheira, porta-janela de vidro alto. Mas sobre a mesa vivem, de tantos mortos, obras vivas. Papéis que as tipografias mancharam, prensaram, deram à revoada. Sei-os tesouros, derradeiros como primeiros redutos do que verdadeiramente me interessa, me cativa, me prende & me liber(t)a. Dois rapazes, por exemplo: um Jorge, Adolfo outro. Ou Florencio (sem circunflexo, este), a sós. Orlando, Rosado. Aurora, Magda. Monge, Raimundo. Não esperam, não vão, não pedem de comer, nada pedem. Oferecem, majestáticos, quanto têm. Recolho, de todos, quantas datas os enformam. Dou-me ao que me dão – e, nisto, nisso, cada diz faz-se gomo da Incontável Laranja, fruto de si mesma, Mãe & Órfã.

Agora mas há oito dias: a meio da tarde, lá em baixo, sim, na casa-de-pasto de Lurdes & Aristides, o meu lápis dando-se a –




b) Quarta-feira, 16 de Outubro de 2019



Estas coisas são, ou foram, do tempo em que o Tempo era de quatro estações ao ano, quatro estações certinhas, vindas & idas à hora em ponto, quatro estações maiúsculas, Primavera-Verão-Outono-Inverno, dava até para acertar o relógio por elas, e agora que o conto já se sabe que não, agora só há dois tempos, só duas estações – calor à bruta e/ou inundações instantâneas como explosões de mercúrio – e às vezes na mesma semana, sol no Natal até às onze da noite & geada ubíqu’aérea em pleno Agosto, é triste, é quase cómico.
Fazia mais ou menos um ano que os manos Crispim tinham daqui debandado, dois coelhos na mesma cartola, fugiam à tropa colonial & refaziam a vida com trabalho duro mas não mal pago como cá, Germano Crispim & Serafim Crispim, filhos ambos do mesmo pai mas de diversas consecutivas mães, o pai-Crispim era Arnaldo, a mãe de Germano era Odette com dois tês, a mãe de Serafim era Celeste Aurora, boas senhoras ambas, não há mal que delas dizer, já ambas lá estão, assim como o que a ambas fez mijar ossos, por assim dizer.
E se agora o conto, é porque mo pede a vida, está claro que a minha vida, a minha vida-moeda de bífida face: a ainda restante & a já dissipada (pouco tudo & muito nada), esta que levo e me traz do sepulcro ao berço sem altar pelo meio, não porque seja importante por aí além mas porque sim, que é razão bastante.
Já o plantel a que pertenci tem mortos, misturam-se-me porém incertezas com notícias seguras, respira ou não Hilário?, talvez que sim Manaca, o melhor talvez seja enumera-los em caderneta não-dicotómica, Matine logo a seguir, Juvenal, Castro, Leitão e Quaresma, Vaz também, Nascimento também, Eliseu, Raul, Horácio e Vaqueiro, é muito triste reiterar por escrito tantos cromos já esmaecidos, amarelecidos, tantos sorrisos invadidos pela cola-de-farinha-cuspida, por escrito a morte parece – e é – mais mortífera, sempre posso ir enfim à rede netcoisa saber mais, mas se calhar não, fico-me com o que prefiro não saber, saber é por vezes uma agonia, aí ond’&quando finalmente sabemos alguma coisa é então que nos vemos descendo já para cromo, para lavado morto, morto de afinal memória bem menos infinita do que o afinal dom esquecimento chamado, mas digo: de tantos outros a cujo escol pertenci, pouco-nada sei, esfumaram-se na bruma nem peso levando consigo través a brisa, digo: Isidro, Capitão-Mor, Sambinha, Quinito, Calado, Ernesto, Vala, Tomás, Belo, Marques, Bento, Mota, Conhé, Mourinho, Móia.
Agora que o escrevo, moro com os nomes acima denunciados e com os que irei delatando, ou relatando, ou atando, ou hei-de contar (contar em número e contar de narração), como por exemplo Rebelo, o canhoto rebelo pai de tanta meninada, valente Rebelo guardador de redes e de linhas que não estas, antes fossem. E dele a Castanho e a Nau, um brevíssimo sopro.
O que de tudo isto é verdade embrulhada em prosa, enfim, não guardo expectativa de alheia confirmação, leitura sequer.
É verdade irem-me rareando os instantes contentes, euforia é mata-ratos que não fumo há trinta & três anos, todavia ontem vinguei-me um bocadito, o caso & a ocasião foram que de repente me apareceram ninguém menos que Pavão e Guerreiro, quase logo a seguir deram-me à costa Damião e Trindade, que vingou na banca até administrador, sacana bonito & de crisóstoma lábia. Pavão vem recuperando como pode de duas mazelas cardíacas, aquilo da neta e do genro mortos em desastre de carro abalou-o fundamente, a filha deu em doida de falar sozinha pela rua sem telemóvel nem nada. Guerreiro faz jus ao nome, tem dentadura até aos olhos, rebenta de saúde camoesa o ladrão, não há bem que se lhe não achegue desde aquele bilhete inteiro da lotaria do Menino-Jesus que lhe deu & rendeu seicentos-contos-seiscentos há tanto ano. Damião, o belo ruivo descoroçoador de tanta cona vadia, mantém-se dandy & tafula & correctíssimo portador de um atavio mata-quem-se-mexa. Quanto a mim?
Quanto a mim, não me mantenho por Voltaire ou Casanova como aqueles burgueses notários do Tiago Belga, tenho sim mas é em pontas, derivo no conto disto, faço por não ser nada comigo, os senhores fazei favor de cuspir para o lado assobiando para o outro.
Escrevo “todavia ontem” a propósito de Damião, Trindade, Pavão & Guerreiro – mas talvez minta sem ser por má-fé de contador, quando digo ontem, enfim, pode ser que há cinquenta anos tudo me apareça ontem (e Outubro também, ou tudo), não digo pareça, digo apareça.
Pode fisicamente a memória atraiçoar-me, que nem por isso lhe serei infiel: refiro-me a Óscar, o alto Óscar (que confundo, sem cacofonia voluntária, com Alhinho) perpetuamente envergado de camisa branca sobre calça preta à maneira do arquetípico criado-de-mesa daquele tempo em que o Tempo era de quatro-estações-certinhas-quatro. Óscar, o elevado Óscar, vencedor da mais crua pobreza, fez-se médico ninguém sabe como nem à custa de quê, o grande Óscar dos passes milimétricos à beira do não-pode-ser, sei lá, cá não sei, o belo Óscar que afinal matou a mulher & a filha naquela quarta-feira em que a Mishima apareceu a Senhora-das-Dores. Ou Reis, história parecida, negra também.
Sim, o Reis, aquele de bigode nigérrimo agrafado à cara pequenina de rato, não, que digo que tão maldigo?, não Reis mas sim o ruivo Romeu, uxoricida ele também, só que magistério, perdão, ministério-público nenhum houve por a lei & por a grei prova-lo à saciedade & à sociedade para lá de qualquer dúvida razoável.
Estes nomes rangem como móveis avoengos tanto na minha casa escurecida como na minha causa escura. Sim: Fraguito-Barros-Toninho-Arménio-Melo-Raul-Baltazar-Bastos-Laranjeira-Botelho-Manoel-Seminário-Nelson-todos-mais-Peres I & Peres II, todos operários da cerâmica, da bolacha, da cerveja, da metalurgia, da carne, dos camiões, sim, vinde todos & deixai-vos ficar um pouco, fervi de fresco uma cafeteira alta, torrei pão-de-centeio, a manteiga é como a daquele soneto do Correia Garção, “O louro chá no bule fumegando”, sim, estes nomes que rangem como ossos em petrificação de leite, toco a ilharga de uma sensação, recebo de imediato outra galeria onomástica, fantástica, (fant)asmática, outra caderneta cruel: Martinho-o-das-bexigas-doidas, Cavém-o-da-mulher-preta-que-no-Algarve-viu-a-Virgem-encarrapitada-num-galo-de-Barcelos, Carvalho-o-que-se-cativou-de-Vítor, Bento-o-que-sofria-de-lembranças-alheias-como-um-repetidor-de- sonhos, Fidalgo-o-que-era-verd’azul-encarnado-no-campo-roxo-da-heráldica-matinal, Delgado-o-que-estudou-para-padre-mas-acabou-escrivão-da-puridade, Faria-o-que-recitava-na-penumbra-da-caserna-versos-puros-como-cisnes-de-cristal-que-o-segundo-furriel-Dinis-dizia-serem-de-Goethe-nisto-sendo-contrariado-pelo-cabo-miliciano-Tomé-berrando-este-que-eram-de-Rilke-mas-nem-outro-deram-na-mosca-posto-que-os-versos-cisn’alinos-eram-de-Faria-ele-mesmo.
Acabo por sorrir sem espelho (nem boca) à vista: meti-me a isto, não me menti isto, sim: os nomes já brilham, os dos vivos nem tanto, os dos mortos muito mais, não é hoje o dia interessante, sê-lo-á o que & quanto este lápis, tinta por vezes, puder. Olhai Camolas achegando-se à praceta, ou Nunes, recém-viúvo, dado à Igreja; e Eduardo, sardinheiro & jovial como um lírio todo sal-de-prata; ou Brito, uma vez na vida, dando de comer ao esfarrapado Isaías.
Podem os pseudofelizes acautelarem-se o futuro ontem. Coitados. Dependem menos da poupança-reforma do que do subo-ou-não-m’-atrevo-? ante a figueira da infância mais baldia (ou bal-de-nuit, mas não quero ir por ’í).
Idílio disse-me gostar muito da terra que mais ajude um homem a dar fruto. Já Carlos, esse poupou-se a demagogias, casou-se cedo com uma fortuna de mamas ambulatórias. Sim: abri a caderneta – ei-la colando-me de reverso-rosto ao que já-fui-antes-de-morto.
Morto não é ainda Peres? I ou II, se sim? Nem Malta. Nem Jorge Melhor. A minha esperança terá sido depois de tanta falta-de-comparência-ao-jogo, digo: fui ter com o homem, boatardei-o, disse-lhe – O senhor não conte mais comigo a partir de Outubro, eu vou-me em vindo as primeiras chuvas.
E assim foi, e fui, deveras. Vitalino, que do balcão mal disfarçava estar ouvindo-me-nos, relatou depois – Aquele gajo pode ser doido, mas não esgana nem engana o parceiro.
Isto foi no British Bar, o das putas-de-luxo geridas por um tal Cardoso que era de Setúbal.
Sim: já resma a esmo se me vem fazendo o conto. Nem em meu auto-infligido desamparo me creria – ou quereria – outra coisa. Então, Moinhos(-o-Verde, o-da-Serra, o-da-Perna-Partida-em-Três-Sítios) diz-me lá das profunduras que ninguém sitia – Tu seguras essa caneca de faiança forte munida de chá-preto abelhado a mel-amargo, tu inquietas o nome, os nomes, pões a ferver a caderneta.
A um canto, Asdrúbal ri-se com as grandes mãos quadradas abertas no ar rarefeito da literatura – C’um carago, habi-ós-mas-era-de-bos-ber-a-dar-serbentia-na-zobras-ma-za-bergar-a-mola-mêma-sério.
O(b)ra isto é o(b)ra, Asdrúbal: Isidoro ou Pires pela esquerda?, Lobo ao centro, Castanho à baliza, alguém Moura ou Bonacho ou Nelo ou China ou Carvalho (I ou dois, como os Peres & os Crispins), sim, ainda onde é quieto até o de-vagar.
Sim, esses-estes nomes ladrando à chuva como cães-d’água. Teimosos na memória como quadros de pintores mortos pela fome chamada realidade, aqui no vagar da espécie, da especiosa humanidade capaz de caderneta.
Também pode ser que alguma mentira haja nisto: digo: caderneta: digo: nomes que ser já não possam senão por essa funda ingénua maravilhosa mentira chamada literatura. E então? Então, Valdemar. Arménio, então. Restritos paraísos de filhos-sós, órfãos à nascença, órfãos à hora crematória. Desconhecer a multidão silenciosa que com a literatura partilha cemitério & lista telefónica? Eu não.
Sair daqui?
Sair daqui, nada.
Sair daqui nada – outra, última, vez.
Falta-me para sempre o n.º 114, esqueci o nome, era do Boavista.

24/10/2019

CADERNETA PRETA - 1






1. Copiosa Imanência ou Por Assim Dizer

Terça-feira, 22 de Outubro de 2019



Nunca gostei de o meu corpo ser tão meu contemporâneo. A idade que perfaço, não perfaz o que penso – muito menos o que, apesar dela (e até contra ela), dela penso. Ali, a luz impondo a transparência rectangular da porta de vidro: ou seja: a luz apesar da janela, a luz que fora de mim reitera um mundo a que a idade, mais e mais, me faz despertencer.

Sim, tenho saído pouquíssimo. Esta casa vai dando para males que não faço, bens que não mando vir, lembranças que de mim só necessitam papel & lápis, tinta por vezes. Já agora, isto também: espécie de copiosa imanência aufiro sempre que o que era sempre se me faz nunca. Digo: nomes passarinhando pelo céu domesticado do meu tecto, datas solenes.

Digo mesmo: nomes solenes, este tecto sem data – meus brinquedos mentais, inócuos & mortais, ou mortíferos, ou vivenciais, dá tudo (n)o mesmo. Pode parecer-Vos difícil, ilegível, irrisório até, quanto aqui, assim, agora, vou pondo – mas calma: é facílimo, é legível, é de facto irrisório, disso Vos não demovo. Enfim & todavia: se não peço, posso dar; se nada mendigo, tudo posso obolar.

E eu vou-me dando. Dand’andando sem daqui sair. O corpo, para cá dos cortinados longos, digere, rumorosamente às vezes, a sua (dele mais que minha) condição de animal exilado-em-mente. Um exemplo elegante: ontem, entardenoitecendo a casa como se fôra uma árvore, deu-me para ficar ouvindo uma mulher que sei morta. Era Agustina.

Agustina (sim, a escritora) dizendo coisas da família dela, pai, mãe; de casas dela, Amarante ou Porto, Régua ou Coimbra, não sei bem, não fixei. Dizem-me-a morta, no que decerto me não mentem – mas achei-a viva, vivaça até, eterna porque filmada. Ou bem mais bem: por ter escrito livros, muitos livros, pertencendo-lhes agora pela aliança inconsútil que a tipografia impõe ao futuro da morte.

Lúdico, lúcido, mais ermo que enfermo – felizmente. Não sei já se ontem se anteontem daqui mesmo vi chovendo dalém. Porta & janela ao tempo mesmo, vidro entre o meu corpo enxuto & o acontecimento pluvial dessa hora que nem V. nem eu podemos reter. Sei que era bonito, muito bonito: digo: aquele segmento de Outubro fazendo de Deus, ou seja: dando-no-la – e a cântaros.

Já vêdes que pouco me suficienta – e até sobra. Nada disto é lamentação. O que é, então? É papel & lápis, tinta por vezes. O céu desta parte da Península aparecia-nos inoxidável como ali a banca da cozinha. Hoje, menos. Houve uma luz mais especiosa, de amarelos-açafrões mais flagrantes com dedadas verdeazulíneas de porcelana pertinente. Pelo menos, eu sei, nem Vos pergunto se isto é seu tanto tonto – ou sou.

Ainda bem que, supra, V. referi Outubro. Ainda bem, digo, por ter a ver com aquilo, supra também, de me desgostar a obstinada colagem do meu corpo à minha idade – e da minha idade à minha mente. Explicação ligeira: desde menino que estou – ou sou – em Outubro. Isto que é – é mesmo isto, é assim mesmo. Mais & mais envelheço? Muito bem: mais & mais acho cama em caduco folhedo.

Estas folhas mesmo, por mor exemplo: a lápis como, por vezes, a tinta, não pertencem à brutalidade incandescente destes verões últimos, destes estios automáticos de dez meses ao ano com que brindamos ao novo – mas derradeiro – milénio. Deteriorámos o céu & apodrecemos a terra, não foi? Foi. Agora, fodamo-nos todos à força toda. É por isso que não saio senão pouquíssimo – e só no Outubro.

Certa pessoa antigamente minha amiga gostava muito de dar-se a vomitórios-posta-de-pescada tipo truísmos moralóides. Sabeis bem, senão a quem, a que me refiro: aqui-saùdinha, ali-vícios, ali-caminhadas, aqui-cigarradas, acolá-copos, acolém-só-àguinha. Digo-a “antigamente minha amiga” por ter morrido – não eu mas ela, essa pessoa tão certinha, mas tão certinha, que até ao cancro se deu, e cedeu, a horas.

Ainda bem também que já V. referi a tal senhora-de-tantos-títulos, Agustina. Fez-me teleportar a ideia até os (há muito) idos dentre 1981-82, idade lectiva em que era, aliás felizmente, obrigatória a leitura curricular de A Sibila. A senhora professora desse remo(r)to 12.º Ano podia não saber (e é que não, não sabia) tanto da literária poda quanto a do 11.º - mas soube levar-me(-nos) à fonte agustiniano-sibilante por claro & fresco caminho.

Uns poucos anos depois, em 1986, e por causa de Agustina se ter dado a mandatária nacional da candidatura de Freitas (também morto agora, há uns poucos dias que se finou, coitado) a presidente republicano cá da parvónia, o PC caiu na precipitação, ou até fantochada, ou caricata intolerância, ou burlesca bonifratice, ou mocorongo espalhafato, de mandar devolver os livros à autora. Eu não devolvi o meu exemplar d’A Sibila. Era e é meu. Rábulas que tais, (já) não.

Não devolvi o livro mas votei no Soares à segunda-volta porque Cunhal mo-no-lo disse para. Arrependi-me muito na ressaca de o ter feito. Enfim, turvas-águas-afinal-passadas. O Bochechas também já lá mora, ninguém cá se demora. Livro que me chegue às unhas, livro meu para sempre – mesmo que mau, ou falso, ou aparranado, ou gebo, ou coiso. Meu uma vez, meu para sempre. Assim me fossem outros bens que a vida (também) tem. Ou que dizem que, por assim dizer.  


Philippe Jaroussky, Thibaut Garcia – "Les feuilles mortes"

Víkingur Ólafsson - Bach: Organ Sonata No. 4, BWV 528 - 2. Andante [Ada...

Canzoada Assaltante