26/12/2017
The “Pale Blue Dot” — the Voyager‘s view of Earth seen from the outer edge of the Solar System. (Photograph courtesy of NASA.)
https://www.brainpickings.org/2017/12/21/reflection/?utm_source=Brain+Pickings&utm_campaign=a0ca5edc9c-EMAIL_CAMPAIGN_2017_12_22&utm_medium=email&utm_term=0_179ffa2629-a0ca5edc9c-236363293&mc_cid=a0ca5edc9c&mc_eid=31796d253b
Ver também:
https://www.brainpickings.org/2016/04/25/black-hole-blues-janna-levin-joseph-weber/
21/12/2017
23 verbogramas só porque sim - Rosário Breve n.º 535 in O RIBATEJO de 21 de Dezembro de 2017 - www.oribatejo.pt
23 verbogramas só
porque sim
1 Mulher-de-calças-cor-de-verde-musgo-molhado.
Nádegas
dela: duas-meias-melancias-pingonas.
2 Rapaz-de-bigode-escovinha-ralo.
Nariz
dele: milhafre-adunco-hebraico.
3 Cão-à-chuva-pela-berma-da-estrada.
Cauda
dele: ponto-de-interrogação-sem-pergunta-antes.
4 Homem-de-guarda-chuva-preto-aberto.
Metáfora
dele: morcego-convexo-sustendo-as-lágrimas.
5 Aqueloutro-homem-nosso-leitor-que-no-Quinzena-me-interpelou.
Palavras
dele: “O-senhor-achegue-lhe-e-arrefinfe-lhe-com-força,-
home’!”
6 Rapariga-de-cabelo-cintado-a-seda.
Ornitologia
dela: espécie-de-andorinha-primavera-perpétua.
7 Recentes-chuvadas-torrenciais-pós-seca-prolongada.
Lição
delas: Natura-maltratada-dá-se-por-vingada.
8 Maria-do-Mar-peixeira-de-Sesimbra.
Marido
dela: pescador-Serafim-Petinga,-tinto-ou-branco-tudo-é-pinga.
9 Menino-absorto-à-janela-vendo-o-que-chove.
Olhos
dele: de-gato-humano-verdes-como-esmeraldas-incendiadas.
10 Sem-abrigo-romeno-a-quem-dei-blusão-impermeável-que-me-tinham-dado.
Olhar
dele: relâmpago-de-gratidão-surpresa-menino-outra-vez-como-o-da-janela.
11 Tecla-do-hífen-do-meu-computador-portátil.
Aspecto dela:
cor-de-burro-fugido-ao-dono-por-uso-&-abuso-contuso.
12 Senhora-que-em-2004-vi-no-jardim-da-Casa-Museu-Passos-Canavarro.
Aura dela: gladíolo-azul-cabeça-toda-d’ouro-viúva-de-poeta-lindíssima-septuagenária.
13 Funeral-do-meu-Amigo-José-António-Conceição.
Família &
Amigos dele: gente-de-vidro-atirada-à-bruta-ao-granito-da-realidade.
14 Quatro-“clubes-grandes”-do-futebol-português.
Por ordem
decrescente: Benfica-AntiBenfica-Sporting-&-União-de-Coimbra-&-nem-mais-um.
15 Dez-andorinhas-6-+-3-+-1-em-cabos-suspensos.
Metáfora delas:
raparigas-de-cabelo-cintado-a-seda-perpétua.
16 Jogadores-de-sueca-à-mesa-de-pano-verde.
Aposentações profissionais
deles: polícia-camionista-cantoneiro-cardiologista.
17 Razão-pela-qual-a-Vida-é-Ave-também:
Por-trazer-a-morte-no-bico-com-ou-sem-grão-na-asa.
18 Pergunta-de-François-Villon-segundo-Umberto-Eco:
“Mas
onde estão as neves do ano passado?”
19 Pergunta: O-que-é-a-idade?
Resposta:
É-um-total-transitório.
20 Pergunta: O-que-é-ser-intelectualóide?
Resposta: É-chamar-Alorna-à-própria-marquise.
21 Pergunta:
A-figura-do-Dom-Quixote-ainda-é-útil?
Resposta:
É,-porque-o-que-Cervantes-também-serve-depois.
22 Pergunta: Por-que-motivo-é-tão-fácil-identificar-um-fumador-de-haxixe?
Resposta:
Porque-entre-a-Pedra-&-o-Altar-ele-nunca-dá-lume-ao-segundo.
23 Nascimentos-das-minhas-Filhas.
Visitantes delas:
Gaspar-Belchior-&-Baltazar-trazendo-consigo-ouro-incenso-&-mirra, sob a
belenense & auspiciosa Estrela.
14/12/2017
Cegueira, clarividência & circularidade do latinismo “et cœtera” - Rosário Breve n.º 534 in O RIBATEJO de 14 de Dezembro de 2017 - www.oribatejo.pt
Cegueira, clarividência & circularidade do
latinismo “et cœtera”
Como tantas
pessoas, senão todas, vi & vivi já manhãs cegas & noites clarividentes.
Sobre umas como outras, os anos exerceram a sua autoridade tão obnubiladora
quão propensa à mera, cerce & inescapável obliteração.
Nem a umas lamento,
nem a outras louvo – limito-me a dar, de outras como de umas, essa espécie de livro-de-razão duplicemente chamado lucidez & resignação. Um mote subjaz, sólido, a estas voltas: a própria
eternidade se volve efémera quando exposta ao esquecimento.
É possível que
algumas circunstâncias loco-temporais da minha experiência logrem convencer o/a
Leitor/a a não desistir já da corrente crónica. Assim:
pela tarde de uma
sexta-feira natalícia de 1984, comprei, numa livraria de referência da Cidade
dos meus vinte anos, dois exemplares da tradução portuguesa de Ficciones, do argentino Jorge Luis (sem
acento) Borges (ed. Livros do Brasil, Lx., trad. de Carlos Nejas, revisão de
Maria Ondina & capa de Lima de Freitas, © 1969). Recordo tê-lo lido na
altura com o eufórico ardor de quem começa a reconhecer na (boa) Literatura uma
forma-de-vida preferível à vidinha
quotidiana.
Três décadas &
três anos depois, reencontrei-me com o meu exemplar – o gémeo que dele comprara
era de presente para um meu Irmão, mano que hoje, para nossa amargura, se
encontra bastante doente. Na manhã de 29 de Novembro do (ainda) corrente 2017,
atirei-me à releitura dessa obra magistral, cônscio embora de não ter já os
vinte anos d’aquando a primeira leitura & temeroso de os meus correntes
cinquenta-e-três, a-páginas-tantas de tantas páginas lidas desde tal remo(r)to
1984, me poderem ofuscar a memória dulcíssima do primeiro fascínio decorrente
da descoberta de Borges. Já me tem acontecido, isso de reler em plena madurez
livros que me (des)concertaram (n)a mocidade
– ficando-me o palato da mente por modos insalubre, insaciado: e
decepcionado algumas vezes, até.
Tal não foi tal,
desta vez. Ficciones (Ficções) continua a ser uma obra-prima
de curtos relatos – daquela concisão lapidar tão ao modo & do gosto
borgesianos. O Próprio J.L. Borges, no Prólogo
à primeira parte da obra (datado de “Buenos
Aires, 10 de Novembro de 1941” ),
é particularmente explícito quanto a este aspecto:
“Desvario laborioso e empobrecedor, o de compor vastos
livros; o de explanar em quinhentas páginas uma ideia cuja exposição oral cabe
em poucos minutos.”
(Monsieur Proust n’est pas d’accord, don
Jorge Luis!)
Como sempre faço em
face de livros bons, enriqueço-me de vocábulos & de locuções cuja partilha
pública acresce sobremaneira ao meu prazer privado. Tenha uma pérola dessas para Vós. A ostra de que provém é a pág.ª 123 da
sobredita tradução portuguesa:
“Pensou que, à hora da morte, ainda não teria concluído
o encargo de classificar todas as recordações de infância.”
Ora, por não ser
chegada (não ’inda) nem a minha nem a tua, ó Leitor/a, inexorável hora
terminal, será talvez curial (re)começar por te (re)dizer que
“Como tantas pessoas, senão todas, vi & vivi…” Etc.
11/12/2017
10/12/2017
07/12/2017
Dois óbitos & uma dívida - Rosário Breve n.º 533 in O RIBATEJO de 7 de Dezembro de 2017 - www.oribatejo.pt
Dois óbitos &
uma dívida
Na
passada semana, o obituário nacional viu-se acrescido de dois nomes
(re)conhecidos por quase todos nós, Portugueses: o do multimilionário Belmiro
de Azevedo & o do músico Zé Pedro.
Do
hipermerceeiro propriamente dito, parece que tinha uns milhões de euros; quanto
ao guitarra-ritmo dos Xutos &
Pontapés, os milhões que detinha eram de amigos & admiradores.
Belmiro
pertencia àquele um-por-cento do
mundo que está na raiz directa do que acontece aos irrelevantes noventa-e-nove percentuais do resto
demográfico do planeta.
Nenhum
rancor nem inveja alguma me movem contra a imagem do engenheiro. Associei-o
sempre, todavia, a baixos salários, a empregos precários e a carreiras
profissionais sem depois-de-amanhã. Mas não criou ele muitos postos de trabalho?
Decerto. Só que a grande massa dos (sub)assalariados do rol de pagamentos do
engenheiro Belmiro não há-de ter muita cera votiva a derreter in memoriam do plutocrático defunto. O
hipercapitalismo é um anti-humanismo: e ninguém me tira deste convicto finca-pé
ideológico-económico.
Já
Zé Pedro me parecia de outra dimensão. Tipo do eterno-jovem, sabeis? Genuíno,
de sorriso leve sem leviandade – uma estrela humilde, enfim.
Não
seria um génio musical – mas também nunca se armou em tal. Interagia como peixe
na água com as múltiplas gerações de músicos que admirou e que o admiravam.
Para (muita) pena minha, não pude assistir, aqui há uns anitos, no estádio da
minha Cidade, à abertura dada pelos Xutos
ao concerto conimbricense dos sempiternos (até mais ver) Rolling Stones. Sei de fonte-limpa que tal actuação foi uma das
mais altas alegrias da & na vida dele. Ele & os companheiros
“aqueceram” a multidão para os senhores que se seguiam: Jagger, Richards, Watts
& C.ª. E fizeram-no à maneira de “homens
ao leme”.
Em
outras paragens, no entanto, assisti aos Xutos
ao vivo. Era gratificante a mescla de idades do auditório: avós & netos
& maduros & noviços devolviam unissonamente aos músicos os muitos temas
celebrizados por esta banda começada aos 13 de Janeiro de 1979.
Morrer
de juventude aos 61 anos não me parece bem. Curiosamente, a má-nova do
passamento de Zé Pedro trouxe-me à lembrança um tal António Variações & um
tal (esse sim, genial) Bernardo Sassetti. Ardis da memória.
Para
todos nós, com ou sem milhões de euros e/ou admiradores, a Lei é material,
concisa, orgânica & inexorável: nascendo, cometemos o primeiro acto
necrológico. Não sei se, da imensa fortuna que acumulou em vida, restará agora
a Belmiro de Azevedo alguma moeda com que pagar ao barqueiro do letal rio – mas
sei que lhe pagámos sempre o que lhe comprámos. Por conseguinte, contas aviadas
com ele.
Todavia,
é ao artista Zé Pedro que ficaremos para sempre a dever alguma coisa. E essa “alguma coisa” não se vende em
hipermercado algum, senhor engenheiro.
01/12/2017
Uma gratidão vezes 32 - Rosário Breve n.º 532 in O RIBATEJO de 30 de Novembro de 2017 - www.oribatejo.pt
Uma gratidão vezes 32
Não
se trata nem de elitismo meu nem de apatia minha – mas a verdade é que sinto
cada vez mais repulsa por certo opinativo-jornalixo
que neste morredouro de tansos chamado Pátria se pratica 24 horas por dia / 7
dias por semana / 12 meses por ano: julgo eu que desde 1143, ainda por cima.
Estou
sendo completamente franco para convosco: e bem mais que de costume.
A
que me refiro eu em concreto? Em concreto, a tudo: ao terrorismo parolo &
ubíquo do futebol; ao facto concretíssimo (ou “naturalíssimo”, já?) de as
pessoas irem ao hospital para se curarem de uma maleita vulgar e saírem de lá
de pés tão juntos quão frios por causa de um mal que nem era o que as lá
levara; os especialistas de
toda-a-merda-&-mais alguma a propósito de nada-&-de-tudo (com
prevalência do nada, naturalmente); o
carnaval grotesco a propósito da tragédia dos incêndios deste ano; a impunidade
(até à redentora prescrição judicial) dos corruptores de toda a espécie:
política, económica, económica & política.
Farto
disto. Não é do meu País que estou farto. É da espécie de desPátria em que se deixou enredar. Números: o salazar-marcelismo
durou 48 anos; o 25 de Abril já foi há 43. Pergunto: nada aprendemos em quási
outro tanto tempo? Continuamos a fazer da persignação o que deveria ser marcha
porquê? Nas redes sociais (que entretanto abandonei de vez por razões cá muito
minhas), a idiotia grassa como uma epidemia tão impossível de segurar como, com
as mãos, as ondas do mar.
Reajo
assim: ambulo pelas ruas. Anoto o que vejo. Ouço o que dizem. Tomo café devagar
como um beija-flor filmado em câmara-lenta. Uma vez por semana, é-me dado o
alto privilégio de escreve’dizer em voz-alta, nesta coluna mesma, o que o mundo
me suscita.
E
aqui era ao que eu queria chegar – e cheguei. O meu/nosso/Vosso O RIBATEJO fez por estes dias 32 anos.
Em papel como electronicamente, este Jornal NUNCA é jornalixo. É SEMPRE ético, isento, deontológico & limpo sempre de
corpo & alma.
Sai
às quintas em papel e todos os dias pelo ‘site’
http://www.oribatejo.pt/.
E
é uma honra ter-vos ao alcance do olhar, senão das mãos, através dele.
Sou-Vos
gratíssimo por tal honra. Ela vos presto em grato retorno.
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