912 578 9setenta à
mais dura porta arrebenta
1. Tejo Alporão
Temo
que ao Tejo acabe acontecendo o mesmo que há demasiado tempo acontece à EN 114
e aos monumentos santarenos: o encerramento sine
die. Se o grande Almeida Garrett quisesse hoje viajar pela nossa terra, que
dele era e que ele tão bem fixou em páginas logo clássicas à nascença da tinta
sobre o papel, teria de ligar para o 912578970. Parece que é o número
mágico-municipal que abre portas que abertas deveriam estar a horas fixas e
certas. De monumentos, por exemplo, que as pessoas, essas chatas que mais nada
hão que fazer, têm a mania de visitar. Se o atendesse alguma “voz técnica”, o
mais certo seria o Visconde escutar em castelhano a revelação de que o Tejo já
não é Rio mas sim heterónimo hidrológico do Museu de São João do Alporão, hombre! Entrementes, já sei que o
Mouchão de Pernes não faz parte do multitudinário bailarico-de-todo-o-Verão“In.Str.” nomeado. Pois é – hidrologia e
barreiras não são “cultura”: são
chatices que não dão folguedo aos bisonhos bisontes votantes, chico!
2. Calvinismo ataca
sessão municipal
Italo
Calvino, o magnífico escritor italiano, foi referido em uma sessão municipal
scalabitana do corrente Junho. Estranha coisa. Acabou quase toda a gente por
ficar na mesma. Devem ter pensado que é o gajo que vem para adjunto do Jesus no
Sporting. Mas pronto, Julho que vem, apurei-o eu já de fonte-suja, é o mês de
Thomas Mann magicar montanhosamente em Abrantes; em Agosto, Curzio Malaparte
conspira no Cartaxo; em Setembro, Erich Maria Remarque vai obeliscar a negro
Almeirim; em Outubro, Malcolm Lowry bebe uns copos valentes debaixo do vulcão
que Tomar é; em Novembro, Graham Greene faz de terceiro homem na assembleia de
Vila Franca de Xira; em Dezembro, o Autor da Bíblia (que, como toda a gente
sabe, é o tenebroso Edgar Allan Poe) vai assombrar todos a todo o lado; e em
2016, não sei nem quero saber – o mais certo é 2016 durar um ano, à maneira
daquele famigerado abatimento de estrada junto a um curso de água ali para as
bandas das Ómnias.
3. Gaivotas sem
terra
Viegas
é uma aldeia da freguesia de Alcanede, concelho de Santarém. Duas pessoas de
breve idade, na brevidade de três meses, ali se suicidaram. “Não há gaivotas em terra quando”… quê?
4. Vandalixos 0 –
Bonitão 1
Ao
muito lixo aparentemente perpétuo da capital distrital ribatejana, juntou-se a
vandalização aleatória de equipamentos urbanos destinados à higiene pública
(deficiente já de si/deles) e de
sinais rodoviários. Qualquer coisa como 250 contentores que a Câmara teve de comprar
para repor os ardidos. Portas veio à Feira, seu histriónico ambiente
socionatural, jantar à pala com mais umas centenas de sombrias figuras-sombra
da laia yes-men. A culpa disto tudo
só pode ser, claro, da Grécia: tanto da pala, como do vandalismo. Só pode. “Os vazios nunca perduram indefinidamente”
– escreveu-o Dinis de Abreu no semanário Sol
de 29 de Maio último. Um dia antes, a 28, o grande Chico Buarque, que é tudo
menos vazio e que definida e definitivamente perdura, era graciosamente citado
pela revista Sábado: “Há gostos para tudo. Há quem me considere
um cantor medíocre. Há quem não goste da minha música e sim dos meus romances.
Eu prefiro ser bonitão.”
5. Consolidai,
filhos, consolidai
Parece
que o “passivo consolidado” do
município de Santarém em 2014 é de 144 milhões de “aéreos”. E que a “dívida
consolidada” do idem é de 103
milhões, apontam Idália Serrão (a tal do coiso
Calvino) e Madeira Lopes. Pita Soares contrapõe “resultados líquidos positivos de 1,9 milhões nas contas consolidadas”.
Vale-nos António Melão, que não é de Almeirim mas parece do Entroncamento, por
fenomenal. Nunca leu Italo Calvino, confessou. Até podia ser o adjunto do Jesus
no Sporting, confesso eu por ele. Mas Melão é homem de contas. Certas ou tortas
– é outra história. Contas, são com ele. Diz ele. “Resultados operacionais do Município foram positivos em 3,9 milhões de
euros.” Diz ele. Vá lá, que não disse “consolidados”.
Mas, vá lá, Melão ainda concede “que se
façam leituras diferentes”. Mas das contas, diz ele, afinal inferiores em 5
(cinco!) milhões ao ano transacto. Leituras, sim, desde que não sejam do tal
Calvino, claro, que se calhar era mas era grego.
6.
Contas agora minhas, chiça
250
(contentores) vezes 250 (euros/cada) = 62.500 “paus”. Porra! Poupai tanto guito
e deixai arder o lixo, já que o não recolheis a tempo, ó pàzinhos! Se não, como
raio havereis de consolidar tanta liquidez?
7. Resposta à
pergunta de há pouco
“Não há gaivotas em
terra quando”…
quê?
“Quando um homem se
põe a pensar”…
na aldeia de Viegas, freguesia de Alcanede, concelho de Santarém – Portugal.
Não,
não estamos “em festa, pá”, ó Bonitão. Estamos mas é na merda, para
falar curto, grosso e direito.