30/12/2020

VinteVinte - 171 (I-IV)




171.

 

BEM-VINDOS SEJAM OS COVIDados

PARA A MESA-DO-SENHOR

 

Coimbra, sexta-feira, 23 de Outubro de 2020

 

 


Fecha-se o mundo a si mesmo, de si mesmo algoz. 
Geral fealdade de pensamento, ideia & acto. 
É melhor, bem melhor, ficar em casa, de facto. 
Morre-se em barda porque-sim, a banalidade é atroz. 
Oh! Marcam greve para Novembro os enfermeiros! 
Chico’spertos nesta altura: querem medalhas & dinheiros! 

Bem-vindos sejam os COVIDados para a mesa-do-Senhor. 
Palavra-sem-salvação. 

(II) 

(Quase lamento ter chegado a misantropo. 
Mas só quase: deveras, nada me inculca filantropia. 
Repugna-me ser humano a grosso, carneiro de modas. 
Prefiro a gentileza, sabendo-a porém rara. 
Não volto – ninguém volta – a moça idade. 
A que tenho, tem-me – e usa-me em negação. 
Assim seja, enfim, enquanto eu for: que, 
de aonde for, 
não volto 
– ninguém volta.) 

III 

Revi dourada praia de meados dos 70/XX. 
Penhascos ainda não aluíam sobre inocentes. 
Era transparente o azul bordando a hora. 
E trabalhar-o-bronze era matéria de estatuários corpos vivos. 

À diáfana reverberação éramos totais em saciedade. 
De casa se trazia a groselha, o capilé, o pão-com-ovo. 
Ninguém semeava seringas pelo areal descalço. 
E a pele fazia de vero portal ao cosmos franqueado. 

[IV] 

[Este meu diário bissexto 
é quanto posso apor ao real. 
Não é david-ante-golias. 
É (d)o que babam os dias.]


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Canzoada Assaltante