30/11/2020

VinteVinte - 146 (primeiros III)




146.

 

POSSES & TOSSES DO TIPO PASSIFLORA

 

Coimbra, segunda-feira, 21 de Setembro de 2020


I

    Estes são deveras dias contados. 
    Muitos mortos que até o nome perdem, pois que contados a granel para a estatística das direcções-gerais & dos noticiários mais estentóreos. Os restantes – ou estão à rasca nos cuidados-intensivos ou assintomaticamente por aí andam a assobiar para o lado. 
    Ano esquisito, que vou (vamos todos, afinal) curtindo a salitre mais ou menos amargo. Mais ou menos – por ser conforme as posses & as tosses. 

II

    A 11 de Abril de 1983 (uma segunda-feira, como hoje), numa ala do quinto-piso da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, conversei com uma rapariga bonita de cara & algo aeróbica de cocuruto mental. Eu só queria falar-lhe de literatura, mas ela preferia narrar-me amiúdo as trepidantes aventuras da vida doméstica – da casa dela como da das vizinhas. O que cada um gastava em mercearias, roupas, saídas a restaurantes, cosméticos. Acabei naturalmente por saltar-lhe para cima, menos de um mês passado. Mas só agora descubro que quatro anos exactos depois daquela manhã – portanto, a 11 de Abril de 1987 (um sábado) – morreu Erskine Caldwell, esse mesmo senhor-escritor nascido exactamente noventa anos antes da minha Leonor. 
        Sempre consegui, pois, neste tempo em que o polvo custa os olhos da cara, os restaurantes estão fechados à força e o verniz das unhas se lasca todo como se já viesse feito de acetona, dizer-te alguma coisita de literatura, Natércia Ludovica. 

III 

Entre rentes de prósperas andam passeando favorecidas. 
Aqui miram petúnias, além pasmam ante melhoras. 
Horas-felizes vivem a favor de clemências nutridas. 
Despedidas dão às lentas, às dignas & às passifloras. 

Sou metade desse par, esse que mirando anda harmonias. 
Dias desfazem-se anos, mas há que dar de beber ao andor. 
A cor é catita, alastra mui bem pelas malvasias
– e as pias dão a plenas & a hidras mor esplendor.


VinteVinte - 145 (alguns respigos terminais da entrada)


Fotografia obtida da transmissão do programa da RTP
RUAS COM HISTÓRIA E MEMÓRIA




Coimbra, sábado, 19 de Setembro de 2020

(VI)


(No dia 8 de Maio de 1984 fui ao Jardim Botânico de Coimbra.
O meu Pai disse-me então:
“Filho, a partir de agora vai ser um fósforo.”
Eu fazia nesse dia 20 anos de nascido.
E razão tinha o meu Velhote:
Tenho 56 anos + 4 meses + 11 dias
– e cheiro a fósforo queimado que tresando.)

(...)

XIII


Na semana passada, no Restaurante O Horácio (antigo O Rio),
uma espinhense peregrina pró-Fátima vomitou a esplanada toda.
Deram-lhe absolvição de gaseificada-água-mineral. E o tio
dela, que conduzia a toyota-d’-apoio, disse: – Já foi, que se fôda.

(...)

XIX 

Era junto ao Mondego, a vida dava-se ainda a nascidos. 
O postal-ilustrado, com a Torre em cima, era bonito. 
Eu era tão novo, que nem sabia estar aflito. 
Os dias infantes são – e eram – deveras mais compridos. 

Houve aqui torre romana, que demoliram depois. 
Carros a gasogénio substituíram os a-bois. 
Era p’la Rainha Santa que meus Pais ’inda viram. 
E lembranças minhas já não dão nem tiram. 

29/11/2020

VinteVinte - 145 (I-IV, com incisões)



145.

 TAMBÉM FAÇO ARRANJOS PARA FORA

 

Coimbra, sábado, 19 de Setembro de 2020



I 

Eis: 
De novo a chuva, temperatura decente. 
Em casa abafa-se, é melhor por ora a rua. 
(...)
E: 
Em diverso bairro, o sossego é firme. 
A ritmo lento, a vida alheia persiste. 
Não se vê rasto de paixões assolapadas. 
O tempo ajuda à interior conventualidade. 
Descarregam fruta nova no minimercado. 
Sendo: 
Contra fundo cartão-celeste, escuras árvores. 
Contentores em seu sítio digerem lixo. 
Não conheço as pessoas mas reconheço-lhes as vidas. 
São epopeias simples de pouco lirismo. 
A televisão guarda-as nas casotas. 
Senhora: 
De peito despenhado até à boca da barriga. 
Cabeleira lacada, cor-de-tijolo, áspera. 
Guarda-chuva róseo, bolinhas azuis. 
Semblante de separada, filhos casados (mal, dizem). 
Costureira doméstica, arranjos para fora. 
Vem a seu chá, sua madalena: mas sem Marcel que lhe valha. 

II 

Ouço ensemble de cravo, alaúde, voz, violino & viola-da-gamba. 
Levo o coração nas mãos, o que me atrapalha a escrita. 
(...)

III 

Não há-de ser hoje que se resolva a pobreza da humana condição. 
Até às quinze horas, pelo menos, não senti disso sinais. 
O que senti, foi deveras o vento forte nos fortes canaviais. 
Pesada névoa pluvial adensava em força a cerração. 

Tenho todavia logrado trocar por miúdos as voltas ao real. 
Circunvalho-me, por assim dizer, em periferias agrestes. 
Nómada quieto, penso mais do que digo à geral. 
A nascer se não volta, morre-se mas é um dia destes. 

IV 

Neste mais recente lustro 
Identifiquei quási inesperada malevolência 
Da parte de quem não era disso 
Nem mínima razão para tal tem. 

Faz parte do ir-vivendo, ao que semelha. 
Digo: aguento bem a patada incônscia. 
Tenho livros na casa que habito. 
E ao longe poente & nascente me sucedem. 

Queira este ser um soneto junto de V. justo. 
Queira esta antiga forma saudar toda a gente. 
Morremos um dia, extinta em nós a semente. 

Sim, estes recentes cinco anos mui me ensinaram. 
Gosto que me eduque a vida, gostei sempre d’aprender. 
Nascemos um dia irrepetível, acesa em nós a semen’gen’te. 


VinteVinte - 144 (com rasuras)




144.

 

ALGUM RECOLHIMENTO

 

Coimbra, sexta-feira, 18 de Setembro de 2020

 



Foi há coisa de quarenta anos, por aí. 
Na noite muito fria, recolhi-me um pouco. 
Ingressei na nave vácua da Sé Nova. 
Escutei o nítido silêncio petrificado. 
As madeiras icónicas já eram no Paraíso. 
Senti que a solidão não era o pior pecado. 

A minha idade era então aberta em flor. 
Havia coisas que já compreendia sem forçar a razão. 
Na noite aumentada do imo da igreja, serenei. 
Eram então vivos todos a que chamava meus. 
As ligações daninhas não me haviam ’inda maculado. 
Ali recolhido, purguei a decência do meu ateísmo. 

É por igual em recolhimento que hoje isto escrevo. 
Tornei-me um velhote desasado, pardal precário. 
Atrai-me muito o que a poucos interessa. 
Interessa-me nada o que atrai os rebanhos-bípedes. 
Tal não faz de mim uma espécie de santo. 
Tal faz de mim uma pessoa felizmente irrelevante. 

Choveu ontem um pouco, hoje também alguma coisa. 
Naquela noite privada da Sé Nova, não. 
Corria frígida mas enxuta a invernia velha. 
Era já poético o meu modo oratório. 
Deus nenhum ali me atrapalhava ou entorpecia. 
Eu era já infante senhor, em plena noite, do meu dia. 

Serão ímpios estes versos à face de muita gente. 
Assim seja – resto-zero apura a minha consciência. 
Era ali perto a morgue do instituto de medicina legal. 
Na Sé estava porém o Glorioso Cadáver do Rei dos Judeus. 
Estranha idolatria lhe impede o repouso. 
Há um par de milénios que pena de insónia. 

(...)
Volvidos tantos anos daquela noite, hiberno ainda. 
É-se catedral por dentro, justo é dizê-lo. 
E noite também, muitas vezes de manhã até. 

II 

Ele esbraceja as frases, é um tipo engraçado, 
arabesca ademanes, contumélias, salamaleques. 
Secretamente, pranteia mágoas do passado; 
publicamente, é entusiasta, dá a palavra & passa cheques. 

Ela é discreta, gosta dele, baseia-lhe a vida. 
Vem de gente pobre nada de terra pobrinha. 
É de escura infância, requeimada & refodida. 
Só tem medo à doença, q’a morte diz-lhe nadinha. 

Estão na mesa por baixo do televisor. 
Não ligam à bola (dá o Famalicão-Benfica). 
Ele está a meio da profecia orada com fervor. 
Ela finge escutá-lo, tendo na mão a carica 

da cerveja que ele esquece e que vai amornando. 
Casal de Coimbra, de bairro vetusto. 
Ela é Maria Clara. 
Ele é Carlos Augusto. 

III 

    Noites há em que eu só queria ir a casa de meus Pais jantar com eles, só nós três, uma terrina de sopa com conduto de enchidos & broa nova. Não pode ser. Estão mortos. E não servem para fora. 
(...)

IV 

Eu não tenho importância, ao menos cósmica. 
A senhora Rainha Elizabeth II também não. 
Faúlhas brevíssimas, sopra-nos um lume gelado. 
Ambos somos de um Nada esquisito. 

É crueldade dotarem-nos de formoso cérebro. 
Chamos por ele com ele em ele à Poesia & à Matemática. 
Depois, todavia, cerram-se-nos as portas. 
Elizabeth é quase centenária, eu a tanto não ousarei. 

(...)


Cada vez mais me parecem meninos os futebolistas. 
Surgem na televisão cheios de presente, zero-zero-ao-intervalo. 
É bonita a ingenuidade deles, a força generosa deles. 
Não se sabem provisórios, fugazes cromos da temporal caderneta. 

Elizabeth foi activa na II Grande Guerra. 
O pai dela fumava muito, padecia de gaguez. 
O tio ex-rei era um parvito néscio-burro. 
O meu tio, não. E o meu Pai não fumava. 


(...)

No resto, liberdade às vezes a cores. 

(...)


28/11/2020

VinteVinte - 143 (quase tudo)


Praça 9 de Abril, Famalicão
(Antigo Terreiro da Mota, Praça da Mota e Praça Conde S. Cosme do Vale, em meados do século XX, Vila Nova de Famalicão)
in
https://www.facebook.com/famalicaoantigo 



143.

 

SER POR UM DIA

 

Coimbra, quinta-feira, 17 de Setembro de 2020

 


(I)

(Ser por um dia um ele próspero
Alguém de quem pudesse dizer-se
– Não é como eu. –)

II

    Da famalicense Praça 9 de Abril à venezuelana localidade de Puerto La Cruz, muitas milhas marítimas de distância não obstam ao crime. O que é criminoso, humano exclusivo é. Isto não tem volta a dar-se-lhe. Nem cor. É capciosa ingenuidade crer que não seja bem assim. Indifere qualquer geografia, desde que humana. 
    Tenebrosa Glasgow. Imunda Marseille. Subúrbios incuráveis de metrópoles sem remédio. O planeta a saque, glória norvégica à pestífera ratazana-bípede. 
    Em sua superior sabença, o luso povo d’antigamente dava por remediado o irremediável – precisamente por não ter remédio. Assim, frequento rincões menos populosos – o que Coimbra ainda permite. Noutro plano (mas no mesmo intuito), resguardo-me da violência falsamente mansa de gentalha autobeatificada: Coimbra, Famalicão, Puerto La Cruz, Glasgow & Marseille esvaziam-se a bem da minha nação. 

III

É ainda templo, perdão, tempo de florescer algum fruto
Não ceder à inércia, colher do aparente ócio a férrea rosa
A tristura é condição mas mata só quem se lh’abandona
Refiro-me a uma força contemporânea do respirar mesmo
É de outro modo inútil chamar-me a mim homem ou a Vós pessoas.

IV

Não frequento arcádias que aliás nem há.
Vim para ver a bola mas nunca mais é sábado.
Até que a vaca tussa, estou feito ao bife.
Queimado em efígie, relaxo-me ao século.

Assim zarastustramos falas para surdos.
Carne-p’a-canhão não falte na grelha.
Turcos são bichos matadores de curdos.
E a Brigada Azul usa Estrela Vermelha.

Escoro com livralhada o alude real.
Não serve de escapa – serve de afronta.
Não darão meus burros em água
(muito menos em essa de bacalhau pelas barbas).

Fala um pouco comigo – e logo vês quem te ouve.
A minha pequenez é humana, não é da pessoa.
Também eu, como tu, padeço de brevidade.
Custa-me mais embora ter nascido do que morrer.

Tertúlias? Não frequento. Aliás nem me as hei buscado.
Conheço meia-dúzia (não mais) de interessados.
Em quê? Na Língua Portuguesa – Sua Majestade.
Mais, não. Faladores, muitos: de papagaio cariz.

Ó seu malandro rompedor de hímenes! 
Seu Anaximandro ou, pior, Anaxímenes!
Fala tu calado, escuta tu absorto:
nasces para ensurdecer, aprendes a ouvir em morto.

(...)



VinteVinte - 142 (com censura)




142.

 

LUNIFICAÇÃO EM MARCHA

 

Coimbra, quarta-feira, 16 de Setembro de 2020




A prima manhã da derradeira metade de Setembro foi doce. 
A ferocidade térmica dos recentes dias não vingou hoje. 
O corpo é grato ao alívio da besta, por mais transitório. 
Pode agora sofrer outras coisas da crescente entropia. 
Exemplo: um cais breve com barcas azuis, roxas, verdes. 
Outro: três homens a vau em rio gelado, duro arvoredo. 
Enquanto vigio, a moção de tantos mundos quantas pessoas é. 
Como o patriarca dos Agualta girando por seus domínios. 
Faz-lhe companhia Santos, caseiro de toda a quinta. 
É indeterminável o ano, mas sei que foi em Setembro. 

Rasgaram algumas colinas, franquearam o trânsito. 
Agora os pesados rugem rumo às raias espanholas. 
Uma empresa poderosa assenhoreou-se das madeiras. 
Os pequenos-cultivadores vivem da horta ainda porém. 
Aplico a idade que me resta à notação legível, inócua. 
Correr, não corro; bradar, não brado; escreviver, escrevivo. 

II 

Um que era para ter sido Raul não se fez tempo usado. 
Permanece na inocência impreterível dos nem-nascituros. 
E no entanto a Rua criou muitos filhos de muita gente. 
A Escola encarava as Fábricas: carne-para-canhão. 
Esse nem-Raul, em limbo, não colheu o espargo-silvestre. 
Não perfumou a boca de bolacha-americana ante o Atlântico. 
A vida poupa a quem à morte se não oferece. 

III 

Lunificação da Terra em marcha. 
O aquecimento-global é genocida. 
Os anos por contar descontar-nos-ão. 
Seremos cremados sem transigência. 
Tirante isso, tudo bem, obrigado. 

IV 

    Raul: 

    Escrevo-te na noite de Coimbra, onde não chegaste a nascer porque não, enfim, não calhou. Safaste-te de coisa pouco boa. Este futuro não vale um chavo. Mundo poluto, natureza maculada, calor de fornalha-crematória a cada virar-de-esquina. Até em casa se estufa a condição. Os Alpes, os Andes, os Pólos perdem as mantas, a cor, os glaciares. Já não gelam no Japão os lagos. As próprias aves de telhado a quem atiro arroz & pão – já não aparecem tanto, não sei se fritas em pleno voo pela inclemência intolerável destes estios de onze meses ao ano. Vivemos precariamente, estiolamos sem remédio, penetra-nos a aridez desértica que a qualquer esperança manda à merda. 
    A gaja da televisão diz que amanhã chove, porém – e que vão estar só 26 graus. Ver para crer.
    (...)
Hei entretanto que sobreviver à noite transformadora da quarta em quinta-feira, 16 em 17. Deixar andar, excelente Raul, deixar andar. 
    Incluo neste caderno esta carta porque, enfim, mal não traz ao mundo. Tenho pensado em ti, que foste morituro ao tempo mesmo que nascituro. Isto é: que foste particípio-futuro sem passar de passado jamais presente. O meu ser escreve ao teu não-ser. Ou assim: juntar-me-ei à tua não-condição, a qual só por aqui, por escrito, pode conceber reunião com a minha.
(...)
    Farás favor de dar a tudo isto a desimportância que merece. Há quem viva da maneira que pode – ou acha que pode; ou acha que vive. Há quem viva da maneira que deve – ou acha que deve, achando que vive. Como na canção do Zeca, “há quem viva sem dar por nada / há quem morra sem tal saber”. Há de tudo, como tudo deixa de haver. Não te preocupes. 

    D. 


VinteVinte - 141 (conclusão: XII-XIV, sem cortes)


Teixeira de Pascoaes
(1877 - 1952)



XII

Em suas casas de pedra privada, figuras como 
Joaquim Teixeira de Pascoaes & Afonso Lopes Vieira. 
tecem laboriosamente teias de significação. 
Muito do que se chama Portugal lhes deve muito. 
Conheceram serra & mar, que avizinharam. 
Deixaram obra que se não furta à partilha. 

Penso neles por este Setembro já ameado. 
De momento nem serra nem vento me beneficiam. 
Ao instante, nem mar nem espuma me lobrigam. 
É tão-só um quarto com leito, cómoda, roupeiro. 
Para palacete porém basta bem ao gasto. 
Joaquim & Afonso, graves, hieráticos fantasmas. 

Só com defuntos me intimo a tertúlias. 
Os vivos são monótonos, andam todos ao mesmo. 
Não são piores do que eu, nem eu do que eles melhor. 
São apenas repetições de redundâncias, chuva em molhado. 
Prefiro-lhes os solenes bêbedos de casa-de-pasto. 
Estes raro fazem muito-barulho-por-nada. 

Luís de Sttau Monteiro & José Cardoso Pires também. 
Patuscos sábios, sabiam-na toda, algo nos deram. 
Li de ambos muito novo, reli-os já madurote. 
Compatriciam ambos bem a lusa maneira. 
Tenho-lhes respeito sossegado, revisito-os bem. 
Temo que depressa sejam esquecidos, todavia. 

Firmo & afirmo estas coisas sem imprudência. 
Cada leitor sabe de si, enfim, nem isto é ciência. 
Eu ando aqui aproveitando a paginação segura. 
Vergílio Ferreira sabia escrever – e mostrou-o. 
Bernardo Santareno sabia de gente – e moveu-a. 
Manuel da Fonseca observou admiravelmente – e expô-lo. 

De tudo isto, que posso enfim partilhar? 
Talvez muito pouco, talvez nada mesmo. 
O Leitor é bicho em apuro & aparato de extinção. 
Ele há pouco, hoje em dia, ele não há muito. 
A rapaziada anda entretida com as net-maquinetas. 
É lá com ela, enfim, cada um como cada qual. 

Por mim, vou à missa ouvir o senhor Padre António Vieira. 
Aquilo é coisa rica, torrente imaginosa, verbo-rosa. 
Martim Codax (leia-se Côdas) tem essência, água em almácega. 
Sá de Miranda é precioso, é de finíssimo quilate. 
Dinis Machado mudou esta porra toda. 
Garrett é um gigante, não menos. 

Quanto a refugo consagrado, digo nada. 
A vida é breve, tempo perdido não tem perdão. 
Na mocidade, ainda gastei cera com ruins defuntos. 
Não mais, não já – agora sei onde é o contentor. 
Só nos antiquários compro livros. 
Não compro merda doirada nem a deixo cheirar. 

De resto, nós por cá como por aí Vós: 
uns p’la Florbela Espanca, outros p’la Florbela Queirós. 

XIII 

Homens conversam encostados a muro branco. 
Já a ampla noite alastrou de si a tinta-da-china. 
Uma luz térrea significa cozinha ocupada. 
Em laboração de vitualhas alguém amestra o fogo. 

À varanda, alguém fuma sem pressa nem recado. 
Vozeia longe o comboio-de-mercadorias. 
A chuva prometida não aconteceu por aqui. 
No terreno baldio, carros dormem sem sonhos. 

Este momento não espera nem tem amanhã. 

XIV 

    Setembro chegou a meão. A sufocação térmica não tem desarmado. Viver custa esforços soezes. Converso muito para dentro, pouco descerro as beiças. O Ano-VinteVinte piorou o absurdo existencial. Tudo mascarado, tudo dois-passos-à-retaguarda. O século mostra-se aziago desde infante. Só sucintos aspectos podem ainda encantar. Não muitos. Enquanto faço estes livros, o mundo enferruja, reitera crimes suicidas, devasta recursos, continua a sortear rifas-de-pacotilha a deuses-de-papelão. O Benfica perdeu na Grécia com o PAOK e veio borda-fora da Liga dos Campeões. Pois foi. 


27/11/2020

VinteVinte - 141 (VII-XI, com cortes)



Coimbra, terça-feira, 15 de Setembro de 2020 (VII-XIV)


(VII)


    (Não pode por enquanto a Fealdade Global opor à minha vida uma muralha sem transcurso, não pode. 
    Tenho aguentado bem o coice.) 

VIII 

Desimporta afinal o indivíduo, 
só as multitudinárias gerações valem luta, 
calem dos poetas o vozear inócuo, 
só ao rumor do rebanho a terra escuta. 

IX 

Saímos um pouco a haurir do mundo a paz. 
Isto tem seu quem de aldeia, vive-se porque sim. 
Torrentes siderais importam aqui pouco. 
À tardinha, já se asperge para a noite o jardim. 

Ilusória lentidão, valha a verdade. 
Em um quási-nada, obsolescemos. 
Há todavia bem pior do que esta pasmaceira. 
Há o presídio, o hospício, a ingratidão, o cancro. 

(...)

Quando só, dou-me a circunvalações mnemónicas. 
Já nada penso em gajas, mereci o sossego. 
Rocei as grandes fortunas – e não valho um asse. 
Mas sei o que seja asse, que de romanos venho. 

Na hora vesperal, nem perdão nem culpa sofremos. 
Isto parece-se com a vida, lotaria sem prémio. 
Doce deveras é porém adormecer sem pressa. 
Isso – e aderir a velas azuis já a meio-sonho. 

Morava aqui perto Alberto Severo de Melo. 
Mora ele ora na ignota estepe dos defuntos. 
Mal por aqui bem passou – como nós todos. 
Deixo-o em estes versos porque o posso. 

Se era esta a vida? Não era – mas outra não há nem hei. 
A oportunidade é única, perda & ganho também. 
Não senão um o rubicão-delaware. 
Por aqui, é Mondego – e maiúsculo. 


A roulotte de farturas de beira-estrada serve. 
Param saudosos das feiras & da farinha-frita. 
Vivem ambulando, que o Senhor os conserve. 
Um casal avoengo compra para a netita. 

Já se esmói a tarde, não tarda anoitece. 
O calor ’inda sufoca a geral bastardia. 
Viver nem sempre é o que mais apetece. 
Enfim, tudo depende do rolamento do dia. 

Em casa (alguma havendo), com livros & chá, 
ele sempre foi dando para certa construção. 
A partilha é pouca? Sim, talvez & não. 

Sete farturas / cinco euros, a compra assim dá. 
Acalmia & sossego, zero-revolução. 
Muitos não têm sequer para pão. 

XI 

Sem esforço pugno pela higiene sentimental. 
A idade simplifica certas dantes complicações. 
A usura de artes subsidia a acalmia. 
O sensorial é mais filtrado, vai lá com calma. 
Em galeria, visões & epifanias significam à vez. 
Quintais, árvores-fruteiras, hortas mínimas. 
Bibliotecas, horas-demoras, achamentos. 
Rácio benigno de lembranças & esquecimentos. 

Em meu canto, assimilando vou perspectivas. 
Verticais sempre, certos livros parecem-me pessoas. 
Lowry, Dylan Th., Yourcenar, Antero de Figueiredo. 
Poetas outros que trabalharam muito & bem. 
Faço a todos companhia que quero sensata. 
Não me ilude a permanência própria, não já. 
Em obra, já hesitação nenhuma, assim sigo. 
Comprei hoje vinte lápis por fora amarelos. 


VinteVinte - 141 (IV-VI, com incisões cirúrgicas no IV)




Coimbra, segunda-feira, 14 de Setembro de 2020 (IV-VI)


IV

Uma vez ainda me é dado o mundo 
Saio um pouco na indiferente segunda-feira 
Nenhuma revolução instiga desordens 
Em recato de esplanada aproveito a luz. 

Gentil gente néscia descuida de mortes 
Renque de vivendas mostra florões cuidados 
Por aqui os velhos & as moscas reconhecem-se 
Crismaram de escritores as ruas do bairro. 

Vêm ao pão & ao café-com-leite os aposentados 
Amantes brasucas por aqui também moram 
À tardinha os empreiteiros vêm fornicá-las 
Deixam-lhes envelopes com o dinheiro da semana. 

De quando em vez algum palerma vozeia alto 
Futebol ou crimes comenta sem fundamento 
Como os poetas, os patetas escutam a própria voz 
Assim costuram as bainhas de seu mundo-nada. 

Gosto da brisa suave dando na pele às camadas 
Anseio por um outono que decerto não virá 
É perpétua a torreira do verão-todo-o-ano 
Isso sim me infelicita nada pouco. 

Conversei um pouco com gente dos meus juvenis anos 
Foi bom o bocado, de nós mal nenhum ao mundo 
Informei-me de gente, alguma bem defunta já 
Branda tristura nos chegou lume às mãos paradas. 

Miro certa roseira de que minha Mãe não cuida 
Outra mãe de outro poe’pat’eta a cuidará 
É de retinto escarlate o conjunto rosário 
Que sentinela monta à casa de que é. 

(...)

Versejador em branco de nulidades estróficas 
Não pareço quem fui, célere corredor de montes 
Prometida promessa de um génio sem par 
Parelhado afinal com o geral estrume de campos-santos. 

Mal nenhum todavia: preciso é ir levando 
Trazendo alguma coisa mais que só aniversária 
E nunca dar abébias à facção contrária 
Que a nosso mal vai velas negras rez’or’ando. 

Sem prosápia excessiva, há ciência em tomar café 
Longe dos desertos sobrepovoados da bípede lixeira 
Guardando para si algum sentido, se algum 
Sobra da evidente absurda autoritária nihilificação. 

(...)

Sim, ontem naveguei sem grandes escolhos viáticos 
Exerci a minha educação, que da PaterMaterCasa hei 
Etc. 

(V) 

(Gostaria de poder ajudar-te – mas tal não acontecerá. 
O que te falta – a mim me não sobra. 
A cada um sua banca – de cada banca, cada obra. 
Não há ajuda que possas dar – ninguém ta pedirá.) 

VI 

    Fecho os olhos para mais bem ver, certas vezes. Nem sempre é instintivo. Também não é a favor ou contra a realidade, por assim dizer, normativa. É coisa minha que por escrito pode ser partilhada. Cá vamos: 

    Rua de ambos os lados muralhada a granito. Calçada irregular, granítica por igual. Tem de ser um inverno antigo, o frio é de cerrar mandíbulas, os ossos tiritam – mas não deixa de ser aprazível marchar sobre pedra entre pedras. A noite já desferiu em absoluto o seu golpe sideral. A brisa democratiza o perfume dos pomares próximos, invisíveis já mas rumorosos & odorosos sempre. Estar vivo não é a pior ideia. 
    Alguém escuta rádio baixinho. Um cão despede-se da jornada ladrando um pouco mas sem grande convicção. Há ainda lobos nas encostas que sobem lunarmente para oriente. Digo hoje – apenas hoje & nunca mais – por não teres acedido, ou sequer querido, a vir comigo. 
    Este lugar, o granito dele, a fruta que dá, a modéstia de seus cães, a discrição de seus locatários – pode ser habitado ao menos por escrito. Daí que pudesses ter vindo nem que fosse apenas lendo. 
    Se ele existe? 
    Fecha os olhos. 
    Mira-o aqui. 


26/11/2020

VinteVinte - 141 (III primeiros - e sem tesourada)


 

141.

 

AGOSTINHO, NÃO FAÇO IDEIA D’ONDE

 

Coimbra, sábado, 12 de Setembro de 2020 (I)

Coimbra, domingo, 13 de Setembro de 2020 (II-III)


 


Provenho de um país restrito, delicado, portátil. 
Alguma educação permite-me habitá-lo na íntegra. 
Ela mesma me faz lograr o mar em terra plena. 
A uma lareira, a sós embora, mantenho companhia. 

Conversando, milhas terrestres & náuticas irmanam-se. 
Um diz-nos de sua mãe italiana, formosa, definitiva. 
Outro, do que penou em orientes insensatos. 
Eu mais escuto do que profiro, à cautela. 

Atrás de nós, franca & farta, a mesa com vitualhas. 
(É como nos sonhos, só que em papel.) 
Pessoas passadas de idas vidas são evocadas. 
Episódios mínimos de microvidas fazem-nos sorrir. 

Fazem-me sorrir, mesmo se o vazio é o que miro. 
Um homem resiste sempre até não ser corpo. 
Sabendo inexistir o além, vale mais o aquém. 
Como quando acendiam fogueira no largo para todos. 

Sumiram-se cerce & céleres os a que chamei meus. 
Pastoreio-lhes a lembrança por serras que nem vejo. 
Gosto das pedras, milenárias todas elas, resistindo. 
Gosto dos carreiros tortuosos & pisados quais destinos. 

O meu país envelhece comigo, mas olhai bem: 
o de as minhas Filhas, delas & nelas rejuvenesce. 
Natural lei que do humano não depende, portanto justa. 
As décadas confirmam-no sem excepção. 

Não é mau irmos aprendendo as constantes vitais. 
Nasce-se sem defesa, felizmente ignorantes. 
Depois a coisa melhora, há os tais carreiros. 
A hora vem de extinguir-se o lume. 

Muitos somos os náufragos, legião de sozinhos. 
A verdade é desaprendermos a temer ques ou quens. 
Não importa. Um pátio chega para tombar morto. 
Não é preciso palacete nem panteão. 

Outros virão. 
Mas, olhai, não: 
não a pessoas me refiro 
mas a poemas. 
Este meu é o país deles. 

(II) 

(Ela sempre, como o sol, radiante. 
Sempr’ela, como a rosa, radiosa. 
Salão celeste à lua exuberante. 
Dona de seu segredo, capciosa.) 

III 

Saí um pouco este domingo, vi as casas do alheio. 
O rio nos sítios dele, o arvoredo q’inda resiste. 
Coimbra é um bom deserto, ninguém existe. 
Anda-se à bel’-vontade, o mundo nem é feio. 

Toquei pessoas, cujo botão é disponível. 
Desataram todas logo a dizer-se. 
Eu penso que há sempre matéria sensível. 
Preciso é que ninguém vá com tal ofender-se. 

Onde estará Agostinho, que aqui trabalhava? 
Q’será feito de quem se desfez desta história? 
Onde a dos Areias? E a dos Peres, q’andava 
a reparar limalhas da metal-escória?

VinteVinte - conclusão (mas tesourada) do 140 (IV-VI)


Manuel da Fonseca
(1911 - 1993)




IV

A base está nos Gregos. 
Dúvida nenhuma. 
Alguma historiografia portuguesa é sólida. 
Alguma poesia portuguesa é invencível. 
Parques-naturais, sim; jardins-zoológicos, não. 
Velhas em colchões mijados sobre dinheiro que nunca viu sol. 
Bárbaros atirando lixo ao chão dos outros. 
A Kultur alemã é indubitável. 
Muito suicídio na Suécia, pelo menos antigamente. 
O ódio ao politicamente-correcto é dever de cidadania. 
A morte levou-me família & amigos: 
empobreço sem apelo & com agravo. 
Dois bravos Franciscos: Manuel de Melo & Rodrigues Lobo. 
Falei uma vez com Manuel da Fonseca. 
Uma vez com Lima de Freitas. 
Uma com Luiz Francisco Rebello. 
Duas com Mário Castrim. 
Uma com José Cid. 
Uma com Fernando Tordo. 
Uma com Manuel João Vieira. 
Duas com Júlio Pereira. 
Uma com Camané. 
Muitas com o meu Pai. 
Na base dos Gregos está o meu Pai. 
Dúvida nenhuma. 

(V) 

    (Lembro-me de um chinês a dizer, na televisão, que gostava muito de morcego-fumado cozido em leite-de-coco. Chama-se a isto “cultura”. Bardamerda mas é.) 

VI 

Nunca daqui sairei – ainda assim, navegarei. 
Pertenço aos lampiões dos caminhos mais sozinhos. 
Sou da terra a que retornarei, dada a hora. 
Outros (que todos são) como eu tal se cumprem. 
Há nesta involuntária solidariedade certa beleza triste. 
Como, em merendas públicas, ver crianças alegres: 
sabendo o que lhes devirá em adultas. 
Ou o calor que os boletins meteorológicos ameaçam & cumprem. 

Penso em amigos idos meus mais do que talvez devera. 
Deveras sim o faço: o Tó, o Zé, o Luís, o Caniço, o João. 
São património meu, comigo bebem de mais. 
Continuo sendo, sem eles, promess’adiada. 
Dever dinheiro não é, enfim, dever satisfações. 
Em restritas águas-furtadas cozem pobres um ovo. 
Têm batatas-cozidas, sobrou de ontem pão. 
Um fio-d’azeite, uma pouquíssima de vinho. 

(...)

Às tantas, dou por mim envelhecidamente. 
Certo é que sei gramática, astronomia nem tanto. 
(Mas já falei com estrelas - cf. supra.)
A poesia é a primacial banha-da-cobra. 
Dela me sirvo para re(vi)ver meus Pais serenados. 

(...)

Soube hoje do equívoco suicídio de Cristina P. 
(Dizem que defenestrou o marido, por dinheiro.) 
Boquiabriu-me a má-nova, aqui perto ocorrida. 
O dinheiro é mãe-de-porcos, avô-de-porcarias. 
Antigamente, desfolhava-se o milho, havia eiras. 
O rio-da-velhice não tem leito nem beiras. 

Ser-se simples, sim: simplóide é que não, nunca. 
O meu Irmão deu-me um relógio, depois um par de sapatos. 
Agora, é morto – não dá nem aceita. 
Sinto-o em paz – o que porém me não pacifica. 
Tenho feito muita poesia em estaminés 
cujos donos não sabem quem sou nem és. 
Quando rimo, primo. 
Quando não, avejão. 

(...)

(O meu Pai permanece-me. 
Imito-o sem carnaval. 
Sou sozinho nisso: apetece-me 
ser dele - & de Portugal.) 


25/11/2020

Morreu hoje o Maior dos Grandes: Diego Armando MARADONA. A mais bonita homenagem veio do rival River Plate. Diz tudo.


 

VinteVinte - 140 (primeiros III, mas com cortes no II)




140.

 

CIVILIZAÇÃO – alguns prolegómenos

 

Coimbra, sexta-feira, 11 de Setembro de 2020




(da fêmea maciça avistada em autocarro) 

Ela é alta & fornida & muito branca, 
semelha a meu olhar torre de leite. 
Fina seda recobre cada tranca, 
bendito seja quem nela se deite. 

II 

A usura da tristura trouxe-me a páramos sozinhos. 
Aguento-me como posso & sei frente ao restante. 
Eiva de humano adubo, cemitèriozinhos 
de província ilustram o que provém mais adiante. 

Não fujo dos dias que me fogem. 
Dou corpo & casa ao vento mais malsão. 
(O corpo é de símio; a cara é de cão.) 
Ciente, evito quantos mui me enojem. 

O favónio fresco faz farfalhar a figueira. 
O astuto Spinoza polia lentes. 
A gente é certo morrer, queira ou não queira. 
Os dias deixam de ser emergentes. 

Rúi em ouro-velho o dia que novo foi. 
Amara eu ter arte de carpintaria. 
Isto é tudo mesm’assim – doer, já não dói. 
Ter para o bocado de pão & a malvasia. 

Fecharam a casa-de-pasto à minha mocidade. 
Era ao lado do talho do velho Adriano. 
Já só reconheço fragmentos da Cidade. 
Ninguém me garante estar vivo para o ano. 

Com versos escoro o iminente aluimento. 
Alude é preferível a avalanche
Petinga frita é muitíssimo bom lanche
perdão, merenda é de mor merecimento. 

Púrpura a trechos, mirai-me em derradeiro céu. 
A Dona Maria fechou portas, mui me atristurou. 
Foi operada, correu mal, deixa quanto foi seu 
a um bardamerdas sobrinho que nunca trabalhou. 

(...)


III 

    Aqui ao lado conversa-se placidamente. Mesas esparsas, hora temperada, pré-prandial-nocturna. Descuidosa sociedade aproveitando o instante. 
    Um dos homens é Franquelim, reformado da navegação mercante. Fez favores a outros, nada deve, sente-se bem na própria pele. 
    Outro é Albertino, aposentado público, julgo ter sido amanuense das finanças ou assim-coiso. Ainda é aparentado do Relvas-rico que mandava postas na importação do bacalhau e daí que tivesse amante fixa em Ílhavo. 
    Custódio bebe cerveja-preta. Teodoro ama & cria gatos. (Eu amo que amem animais.) 
    Aqui dentro escuto placidamente, faço os meus versos, vou de vez em quando ao balcão, bebo & pago no acto. 
    Somos todos, por assim dizer, Civilização. 


Canzoada Assaltante