28/12/2020

VinteVinte - 169 (conclusão: IV-VII)



    IV

    Samuel Paty, o professor francês assassinado na sexta-feira, 16 de Outubro de 2020, é homenageado hoje em cerimónia público-(inter)nacional na Sorbonne. A França abriu há muito as pernas a toda a escumalha, islamita incluída. Aí tendes a paga & o símbolo: um professor de História, mestre & apologista do livre-pensamento, morto em casa, sua casa – que o mesmo é dizer na sua escola. Aí tens, França, a paga de abrires as pernas – e de fechares os olhos. 

    V 

    Apesar do exposto em IV, temo estar, cada vez mais, menos interessado no real-quotidiano – tanto o local quanto o nacional, tanto o peninsular quanto o continental, tanto o deste lado do mar quanto todos os demais lados dos demais mares. O meu Gato é tão mais interessante quão nem a cotejo deve ser sujeito. Digo-o com certo (mas pequenino) desgosto. 

    VI 

    Sem corpo, consciência nenhuma, mente nenhuma 
    – e alma, muito menos. 
    Não há (ou não hei, admito) volta a dar-lhe. 
    Sem a instância-corpo, só ante- ou pós-trevas. 
    Olhos & luz dependem-se. 

    As religiões são de uma ignorância criminosa. 
    Têm por indubitável o que só dúvida suscita. 
    Ou antes: nem dúvida, pois que se sabe 
    ser impossível saber. 

    Por que há coisas, tempo, mundo? 
    Porque a minha consciência as determina. 
    E se eu não tiver já corpo? Nenhuma consciência. 
    E então? Nenhuma coisa a tempo de ser mundo. 

    VII 

    De Darmstadt, o jovem atleta em Lagos, ao sol. 
    Com ele, de Konstanz, a namorada xadrezista. 
    Iniciadores dinásticos, pensei eu de imediato. 
    No Inverno seguinte, trocámos correspondência. 
    As cartas rarearam, desvaneceram-se enfim. 

    De Galveias, a moça fornida, grávida aos quinze. 
    Os pais do rapaz pagaram-lhe o desmancho. 
    Aos dezoito, os mesmos compraram-lhe bilhete. 
    De barco, para St. Ives, em Cornwall. 
    Que eu saiba, ainda lá mora & trabalha. 
    
    De Barros Secos, o moço magro, coxo da esquerda. 
    Brilhante carpinteiro naval, todos o diziam. 
    A solidão adulta comia-o por dentro sem tréguas. 
    A prostituição não lhe resolveu o problema. 
    Morreu de uma úlcera gástrica demasiado séria. 

    São nomes ora incorpóreos de sítios utópicos. 
    Na mente do leitor, pode que se recomponham. 
    Não sei – pugno por uma realidade alternativa. 
    Muito do que se não vê, sabe-se de outiva. 
    Aprender bandolim, recordar Ciccio da Calábria. 




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Canzoada Assaltante