07/11/2020

VinteVinte - 109 (excerto II)

 


Rory Gallagher
(1948-1995)



Coimbra, sexta-feira, 24 de Julho de 2020 

 

 

II

 A 6 de Outubro de 1976 (uma quarta-feira), Rory Gallagher dá de si no Rockpalast de Köln. É um anjo único. A homilia dele é o domínio absoluto do instrumento. Veste de modo irrisório. O ouro está todo na música, o aparato fica aí. É o domínio absoluto do anjo-músico sobre o que sobrevoa.

Outras madeiras morrem de pobres, perdão, de podres em estaleiros anonimados. Até a pedra apodrece – e eu não queria em tal crer. A modas não signo, perdão, não sigo: repugna-me todo o rebanho bípede.

Palavras & música irmanam-se em alguma fábrica corpórea de artista. Daí ao absoluto domínio, uma vida vai – vai & só volta se algum registo tiver sido obrado por generoso testemunho.

A luz doura-lhe cabeleira já de si d’ouro arruivada. É em Colónia, que há duas décadas & picos os Aliados arrasaram à força de bomba peremptória. (Mas a Catedral aguentou-se.) A paz ocidental vinga agora na breve plateia. Nem cirrose nem overdose, não ’inda.

Em 1976, faltam onze anos até que morra a senhora Yourcenar. E dez até que o Jorge, que me indicou o Rory.  


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