31/07/2021

PARNADA IDEMUNO - 688



688

Sexta-feira,
30 de Julho de 2021

    Era em Fevereiro de 1884.
    “No dia 1, ao começo da noite, suicidou-se, por enforcamento, numa das casas do seu aposento na Universidade, o lente cathedratico da Faculdade de Medicina, dr. Augusto Fillipe Simões (…)”
    Cito Augusto Rocha, no primeiro número (romano) da Necrologia apensa à reunião em tomo dos Escriptos Diversos (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1888) do dito suicida. Os outros subsídios para a memória fúnebre do malogrado universitário são assinados por A.A. da Fonseca Pinto (II & V), Bernardo de Serpa Pimentel (III) & Joaquim Martins de Carvalho (IV).
    Recolho notas antigas. Fiz a leitura do volume no Verão passado – mas o riscanhado lapiseiro quis ser passado a tinta. Daí:
    A.F.S. nasceu em Coimbra a 18 de Junho de 1835 (uma quinta-feira) & em Coimbra se matou a 1 de Fevereiro de 1884 (sexta-feira), não chegando pois a completar vivo 49 anos. Entre muitos outros interesses, cultivava o de ser colaborador & redactor de O Instituto, folha académica de alto valor cultural daquele último quartel de século.
    Era filho do Sr. Manuel Simões Cardoso & da D.ª Constança Jesuína de Paula Cardoso. Era também um aptíssimo estudante: de 1850 a 1855, formou-se nas faculdades de Mathematica e Philosophia; de 1855 a 1860, formou-se na de Medicina.
    Atributos oficiais deste infeliz moço? Dariam um poema. E, copiando-os já, vão dar:

DOUTOR E LENTE CATHEDRATICO DA FACULDADE DE MEDICINA
BACHAREL FORMADO NA FACULDADE DE PHILOSOPHIA
ANTIGO PROFESSOR DE INTRODUCÇÃO NO LICEU NACIONAL DE ÉVORA
DEPUTADO ÁS CÔRTES PELO CIRCULO DE COIMBRA EM 1880
SOCIO DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA
DO INSTITUTO DE COIMBRA
DA REAL ASSOCIAÇÃO DOS ARCHITECTOS CIVIS E ARCHEOLOGOS PORTUGUESES
ETC. ETC. ETC.

    Que irredimível solidão foi a sua, capaz de o levar sem retorno? Máxima foi, pois maior não há, solidão, que a de ter por única companhia uma ponta de corda.
    Li a diversidade dos seus Escriptos. Merecem reparo. A eles voltarei, amanhã talvez. Por ora, galgou todas as valas a nascida noite. É ela o país maior, agora. Da marquise ao cabo do mundo, daqui à vetusta adusta argírica Lua, vai talvez o mesmo – e quanto vai, voltar não volta. Volta & ½, só o cão.


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Canzoada Assaltante