29/07/2021

PARNADA IDEMUNO - 684 & 685


684

Quarta-feira,
28 de Julho de 2021

Falei-Vos de um velho atinado para com seu fim mesmo
É um homem real com dois milénios & meio de idade
Tanto dá para o caso 2500 como 80 ou metade de ambos
Li dele na madrugada que precede este papel manchado
Escrevo ora na tarde em cujo ápice visitarei o meu Irmão.

Julho dá, ele também, de si a quadra derradeira
Por fora não parece mas por dentro combatemos
Neste caso falo por mim & por Vós em ousadia
Dia é de fazê-lo, a mal me não decerto levareis
Somos afinal humanos, tanto tal maravilhava Sófocles.

Atravessei água quente, espuma, aço, pano
Lavei, raspei, limpei, enxuguei o corpo
Estou pronto para a excursão ao fraternal orago
Espero voltar por volta das dezanove, dia ainda
Tenho os papéis em ordem, se não a vida.

685

Vivos, efémeros.
Mortos, perpétuos.
Perde-se destes a contemporaneidade, pois passam a atemporais.
Nada os aflige ou comove.
Em peso, a sombra – uma ponta (uma pontinha, quase nada) de amargura.
O sal da presença (& da pertença) por terra.
Anda ao engano quem quer, ao desengano quem pode.
A boa poesia torna simultâneos demanda & achado.
Uma embalagem com alimentos, a bonança crepuscular.
No átrio do hipermercado, quatro que falam de sorte, faca.
Perto delas, na fila-caixa do bufete, quatro trocam propostas.
Um campo humano: plenitude ou planitude? Ele é conforme.
Vi a montanha – e ela era bela & atenta.
À entrada da vivenda, o cão veio saudar os visitantes.
A comida era de um sabor antifamiliar, profissional, de seriedade dura.
A enumeração destes elementos dificulta a assimilação.
É de saltear versos, ler aquele, ir a outro, vir a este.
No fim não há exame, pode não reter-se absolutamente.
Eu fiz um dia frugal, vi as luzes da ribalta, ficam longe.
O mais assisado é ir vigorando pela ribabaixa.


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Canzoada Assaltante