26/09/2020

VinteVinte - 60 (X a XIII)

 


X

 

O palonço-recorrente é maioria.

Febricitante, sua ignóbil tacanhez.

Não lhe trouxe a escola melhoria.

A morte lha dará sem mais talvez.

 

Talher de prata, porcelana finíssima.

Maviosa contralto, Diniz ao piano.

Que belo serão! Hora sereníssima!

Senil avòzinha esbufa seu metano…

 

A minha geração ’inda viu cães à chuva.

Eviscera-se & descabeça-se a sardinha p’ra lata.

A daninha esperança foi dar uma curva

& não consta que volte tal puta barata.

 

(XI)

 

(Sim, fragmentariamente embora, embora mais fenda do que muralha, este manuscrito vai volvendo-se livro. Neste sentido: encontra unidade na diversidade mesma de seus lances, seus ângulos, suas quási-confissões. É quanta ciência pode – nem pouca nem muita.)

 

XII

 

Gosto de documentários da vida selvagem.

Custa-me que a gazela & o antílope etc.

(O etc. é o leopardo & a hiena.)

E o esquimó nunca vê o pinguim.

 

Tenho andado mundos todos por explicar.

Somos todos de vida pouca em corpo-d’usar-

-só-uma-vez-&-a-sós. Desligo o televisor,

acampo na cozinha, ainda a luz raia esplendor..

 

Bolitas novas, multicolores, de espuma, são

o brinquedo novo do senhor meu infante Gato.

Dia 25 que vem, faz ele um ano nesta Casa.

É muita bela, a inocente majestade dele.

 

Vale mais um franco bocejo dele que dez livros meus.

Sou o antílope dele, vou sobrevivendo-lhe nem sei como.

O facto de ele ser perpétuo-presente desdiz o Tempo humano.

Não gosto que o jornalismo esteja moribundo.

  

XIII

 

Conheci Alberto, António, Arménio & Serafim.

Não conheci Maria, José, Joaquim & Deolinda.

Meu Pai era o quinto dentre nove.

Não conheci nem o Pai nem a Mãe dos Nove.

 

De onze, pois, conheci cinco. É pouca ciência.

Destes doze, só eu estou vivo.

Ainda não sei para quando a re-união.

Espero ordens.


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Canzoada Assaltante