11/04/2021

PARNADA IDEMUNO - 228 a 231



228

Sábado,
10 de Abril de 2021

Raiz, caule, folha, flor & fruto.
Ordem, família, género & espécie.
Mas também:
Bonanno, Gambino, Genovese, Lucchese & Colombo.
Tem a Natureza-Mãe forma de (nos) ser madrasta.

229

Faias escoltam em alameda o visitante até o pórtico.
A quinta-solar esplendece qual jóia em botânico estojo.
A casa do casal de caseiros irmana a da moagem.
Tendes depois almácega, jardim debruado a buxo, rosa-dos-ventos.

Entre as alas de buxo passeou em pausa o preceptor das Meninas.
Era em privado poeta publicado por jornais da província.
Assinava elegias como Tadeu da Câmara, era fraquinho.
Todavia, ministrava bem seu latim, sua botânica, seu desenho.

As Meninas estudam as lições em carteiras de cerejeira vermelhas.
Estamos no ominoso ano de 1922 d.C. Ominoso, sim:
morre Proust, vem a lume a primeira-edição de Ulysses.
Tudo isto é porém longe, não chega a esta paz (de) solar.

São duas, as Meninas – herdarão tudo de papá & mamã.
Semelham lírios que a botânica partilhasse com a porcelana.
Diferem de nascimento ano & meio apenas.
Oferecem refinadas & lautas merendas de chá a suas bonecas inglesas.

Tadeu é na verdade João: João Nicolau Lucena de Brito.
Dá lições particulares para compensar a ruína que herdou.
O pai quase chegou a visconde – mas morreu em desonra.
A mãe matou-se por ter vindo de si a tal desonra.

Oito anos antes, mataram o Rei & o Príncipe-Real.
Tadeu da Câmara honrou com ode lacrimal os reais extintos.
O poema saiu com moldura de goivos no Ribas de Amarante.
Não há dele menção no Fidelino ou no Lapa ou no Cidade ou no Saraiva/Lopes.

Instauraram a República, destravaram & travaram a Grande Guerra.
Mataram o Sidónio-das-sopas, os (des)governos sucedem-se.
É ano de uma era já decídua: em quatro, tereis a Ditadura.
Por enquanto, João faz de Tadeu entre buxos & faias de avenida.

(conclusão no 231)

230

Domingo,
11 de Abril de 2021

    Conheci & vi em acção alguma gente videirinha – no pior sentido deste apodo. Repugna-me ainda o lembrá-la, embora já menos do que soía, pois que há benigna porção do envelhecimento que por mim acode. Com maior ou menor estardalhaço, tais carreiristas acabam apodrecendo como todos & como tudo. Assim, prefiro velejar o Domingo-de-Pascoela em sozinho arroio. Quantas vezes a própria sombra não é de cada um a melhor companhia? Muitas vezes – eis o sensato oráculo.

231

Dona Esterlina a mãe era das Meninas.
Vagava dela o tempo vagueando.
Podava suas rosas cristalinas
& o mais era viver agora & quando.

O marido, mui raro vinha a casa.
Engendrava fortuna na Mercante.
Estimava-a, tal é certo, a golpe-d’asa:
mas lídimo não era como amante.

Faias escoltam em alameda o visitante
etc.



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Canzoada Assaltante