29/09/2023

H. EM BUSCA DELFIM - 171 a 175

 

171

 

A noite passada, vinda a manhã, será tarde de mais?

Pugno pela consciência, a mais lúcida, de nossa desimportância.

Gosto muito de sentir o vento dando de si em canaviais.

Ando muito a pé, sinto-me em expansão, amo as aves todas.

 

Amo, sim, as aves todas, abutres incluídos, como não?

Esta manhã não sei, amanhã não sei, ontem talvez soubesse.

Há, notoriamente há, notavelmente há, razões para.

(Só que, entretanto, Delfim terá suas/dele dúvidas naturais.)

 

Quatro linhas de ontem?

Tenho-as aqui:

 

Fechamo-nos na noite mais cedo do que devido:

nossos Pais não são vivos,

há que, como um cão,

guardar a orfandade.


 

172

 

Trata-se de um homem algo balhelhas, por assim dizer. Disse-me ter/ser nascido a um 13 de Maio. Disse-me que o 13-de-Maio deveria ser feriado. Disse-mo assim:

 

“Afinal, é o dia de Fátima, da nossa Mãe do Céu.

O Camões não era santo mas tem feriado.”


 

173

 

Já muito hei praticado mor bondade.

Eu dou pão às aves de terra & céu.

Quando escrevo, atrevo a vontade

de me confessar, de me pôr ao léu.

 

De betão, viadutos li’am nadas.

De saibro, rangem mais de mil passadas.

Eu vingo as minhas estrofes rimadas.

Eu singro & sangro crónicas cansadas.


 

174

 

(Ó juvenilidade ex-minha, não me expectores!

Ó santa-do-açúcar, dá-me dias melhores!)


 

175

 

(Quantos anos deveras temos?

Quantos, vividos, são nossos?

Por que temos frio nos ossos?

E quantos ainda, se, vivemos?)

 

 

 

 

3 comentários:

cid simoes disse...

Bem-vindo!

Daniel Abrunheiro disse...

Obrigado, Cid.

Anónimo disse...

Um abraço. António Pascoal

Canzoada Assaltante