27/09/2023

H. EM BUSCA DELFIM - 154 a 157

 

154

 

Vislumbro a possibilidade mínima de um encontro.

(A 26 de Julho de 2017, liberto enfim, encontrei uma nota de cinquenta euros.)

(É que nem digo achei – digo: encontrei.)

(Ou: encontrei-me com uma rica nota de cinquenta euros.)

 

Encontro? Reencontro?

Delfim: a dúvida é quase mirífica.

Ou sabática.

Ou – vamos lá – sabática.


 

155

 

Sob as tílias, assimilo a derradeira luz do dia.

Corre-flúi uma aragem fresca, agradabilíssima.

Nem sempre é remunerado quem mais porfia.

Verdade. Mas é que é uma verdade inutilíssima.

 

Rua do Padrão, antemão da Avenida Fernão de Magalhães.

19 & 48, vi hora & meia o senhor meu Irmão José.

As tílias? Firmes, maravilhosas, de pé.

As famílias? Essas são diversas confusães.

 

Um resto de desejo (sei não de quê ou quem) talvez me anime.

Um rosto por ensejo, claro, bonito, sublime.

Não sei. Sei que tenho de pegar ofício à meia-noite dada.

 

Que, de resto, valem deveras meus sonetos?

Património que legue a eventuais netos?

Ná. Nã’ me parece. Decerto nada.


 

156

 

O rosto rubicundo do bebedor na Rua do Padrão: pimentão.

Nada sei de sua pessoalidade historial, seus proibidos arquivos.

Sei tão-só que é um dos que ainda vejo vivos.

aqui-Coimbra-Rua-do-Padrão.

 

É pelo entardenoitecer: recolhe-se ele já a sua cela.

(De madrugada, regurgitará uma bílis carmim-amarela.)

Sei o nome dele, que d’imediato aqui revelo:

Corcel Vintém Regougo Amarelo.

 

As crianças humanas valem a criancice das demais crias?

Tudo vale, nada perdura – a lição é dura.

Nasceram-te sem processo-de-instrução: que querias?

A guerra não é passada, é futura.

 

O rosto, de rubis fecundo, do bebedor da Rua do Padrão.

Sim, é mote de meu poema (de improvável edição).

Ele há sempre coisa pequenita impedindo-nos de fazer um figurão.

(Digo eu, que nem ao luar uivo – tão só ão-ão-ão-ão.)

 

Chamam nomes-impropérios a estátuas de ex-impérios.

A estupidez humanóide coincide consigo mesma.

Vai tudo do foderem-se-uns-aos-outros-+ ou – sérios.

De resto, fica-tudo-como-a-lesma.


 

157

 

Tem em conta, excelso Delfim que:

 

Em anos-verdes, sob este mesmo azul, singrei à bolina.

Tenho por boa prática o levantar-me cedo, cedo arruar-me.

Consulto do mundo-próximo os índices, a bibliografia do dia.

Efemérides pratico também, em constante sarabanda.

Os anisófilos (vá: os bebedores-de-anis) campeiam, não rareiam.

À saída do emprego (enquanto um tenho & mantenho), não vacilo.

(Às vezes, bacilo: mas vacilar é-me menos comum, felizmente.)

Falei dos bebe-dor: ele há-os muitos & muito.

O calor descasca o mulherio, belas peças-de-fruta carnívora.

Em anos-verdes, sob este mesmo azul, sangrei a menina-víbora.

 

Em anos-rosa, través este mesmo branco, instaurei-me rotina.

Desde menino que padeço da atenção toda ao palavreado.

Outra coisa não tenho feito: escrevo no ar o que o ar me ouve.

Este é o destin’itinerário-senda que me coube.

O levíssimo insecto pousa em esta página mesma, lêde-o Vós.

Içou voo, dissipa-se na transparência cristalina da matina.

Faço como sempre fez Borodino Manchego Refalde Tamizes: subvivo.

Faço como nunca fez Peralta Damurça Sarmento Corvo: completo 58.

Nada pode interessar-Vos eu ter amado Serôdia Rivelino Fragide Colcheia.

(A história com esta senhora não foi linda nem foi feia.)

 

Formalmente, sigo mostrando-me de atavio pouco repreensível.

Não é que ao humano mundo alheio interesse o que pareço de óculos.

Trata-se de uma questão de higiene-básica (a mental incluída).

De sítios & instantes que não lembram ao Diabo, lembro-me eu.

Abeirei precipícios que eram afinal tocas-de-grilo, não mais.

Tenho conhecido gente válida, certificada, pronta, em-vivo.

(Conheço também da outra, a neutra, a sem-singularidade.)

Tudo isto não passa de, digamos, singularidades-de-um-rapaz-moreno.

Para quando a grande opereta-bufa de meu enterro?

Seja quando for, será protagonismo que não erro.

 

Amortalho antecipações sofríveis que só fazem sofrer.

Reciclo emoções perigosas em prol da sanidade possível.

Adentro mais & mais a condição (o estatuto, id est) de estar-de/por-fora.

Da honestidade & da hombridade paterherdadas, nada titubeia.

Remiro as fotografias de meus consanguíneos, deito contas aos anos.

O meu primo-direito Cardito Richa Bispovala Dearte, hepático, f. 1994.

A minha tia-avó Magda Colchete Reveles Queluz, tísica, f. 1965.

Esmifro pão ante pombas que mais me sabem do que os meus Leitores, se alguns.

(Ainda esta manhã o fiz, em dois lances da R.ª de Fora de Portas, FF.)

Em anos-carmim, chamei a mim dores necessitadas de mor siso.

 

Frugal, temporizado, pobrete, crisóstomo, facundo.

Tempestivo, revoluteador, ávido, seráfico, onanista.

Dez adjectivos que à medida alfaiatam este H. em Busca etc.

Mais outros tantos; fragilíneo, voraz, topómano, úrico, único,

frutívoro, furtivo, ornitófilo, xadrezante, literaferido.

Deram-se-me já as 9h37m da quarta-feira, vou-me ao Gatito.

Subo a pino-prumo a ladeira do Monte Formoso, não-é-p’ra-todos.

A Cristina doou-me comida completa, minha porção do dia.

O meu Irmão José D. falou-me ontem pelo olhar, não minto.

Em anos-bolina, sob este mesmo verde, azulei quanto pude.

 

 

 

Sem comentários:

Canzoada Assaltante