Foto: © DA.
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De manhã, pensei alguma coisa, mas não exagerei.
Fiz sesta de duas horas, ó-despois.
Embalo-me para a noite, que servirei.
As vacas são as vacas, os bois são só
bois.
Pensei alguma coisa, Delfim, mormente no
que desconheço.
É muito o que desconheço, mas não muito o
que pensei.
Já menos vacilo, menos hesito, vá, estremeço.
Embalo-me para a noite, toda ela servirei.
Vi hoje Sttau, há muito morto, em programa
televisivo.
Gostei de vê-lo, enxuto na mesma, homem de
clareza.
Li obras dele, lia-as naquele tempo
redivivo
das primas-leituras, que bem me fizeram
com certeza.
Recordei, de Aquilino, A Pele do Tambor.
Recordei, de Régio, os tantos crucifixos
& o Cântico Negro.
De Branquinho, O Barão.
De Namora, Resposta a Matilde.
De Vergílio, Aparição.
De Agustina, A Sibila.
De Eunice, a recente morte.
Não passei mal, ’té aqui, a jornada
(fornada).
Fulano, que vive ali em um quarto da
Pensão Lacrosse,
parece-me adoentado com alguma gravidade.
É (sempre foi) de carão severo, d’exagerada
severidade.
À janela do quarto, pelas sete matinais,
mui Fulano tosse!
Fulano chama-se Tita Cajó Roderico
Erminde.
Nunca nos falámos ou jogámos ao berlinde.
Foi casado com Tilde Riacho Palla
Wenceslau.
Nunca mais houve mulher: não sei s’isso é
bom, não sei s’isso é mau.
Hoje, a fornada inclemente voltou a atacar.
Mantive-me à sombra o mais quanto pude.
Tanto grau não pode fazer bem à saúde.
Sinto-me fermento sempre a destilar.
Na Pensão Lacrosse (cujo bufete frequento),
há bifes-de-sola & empadão-de-cimento.
Porém, é gentil o casal velhinho
que me serve a azeitona & me regala o
vinho.
Estiveram em França, região de Toulouse.
(A de Claude Nougaro, da célebre Ville-Rose.)
Ele é Nicolau – e que ninguém ouse
chamar-lhe “ó Breyner”, que ninguém abuse.
Ela é Dona Carme, qual composição de
Catulo.
Carme Dorca Estendal Sá, ao V.º serviço.
Já vai nos setentas (dos vintes, foi um
pulo).
É oriunda da Ega, filha de cavalariço.
Quase las-siete-de-la-tarde, nestes
entretantos.
(À meia-noite pego, saio às oito, dia
ganho.
Só até meado Setembro tal ofício esgalho.
Segue-se-lh’ a incerteza, sem risos nem
prantos.)
A porra do Sol é de grande ferócia.
Quem me dera à sombra de frondosa acácia.
A minha vida é tristonha, tristonha
facécia.
Dev’ria ter ido a talhante – ou então a
polícia.
(Ou a urso-de-pelúcia.)
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A infância desconhece-se sozinha no mundo.
A velhice, não – a velhice reconhece-se.
Está errado o infante porque se desconhece?
É seguro o velhote que se reconhece?
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Ainda afinal alguma alma?
Beberei eu ainda da doce água?
Terei eu profanado de ’Nando o habitat?
(Mas como o faria, se há tanto ele o não há?)
Ferrabrás Bravateador,
que a pele te arda em apuros de dor!
Tua cifose, ó giba-marreca-corcunda,
te seja maldita & má & imunda!
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(Apercebo-me, mais & mais, cada vez
mais, como se até jamais, da minha desimportância mesma – desde que à de todos idêntica,
até por id-ente-idade.)
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