11/01/2011

Rosário Breve nº 188 - de 7 de Janeiro de 2010 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt



BANalidades

Eu tinha-vos avisado de que 2011 seria pior do que 2010. Aí está a prova cabal e definitiva e incontestável: o filho do Valentim Loureiro, o Joãozito do naufrágio do Boavista Futebol Clube, está de volta. E não é ao dirigismo apitodourador. É à música. O grupelho dele, uma coisa fedelha chamada BAN, irrompe do esquecimento de onde nunca saiu e volta com um disco. Parece que é “cantado” em inglês. Só nos faltava esta. Objectar-me-ão os leitores mais serenos que isto não traz mal ao mundo. Pois não. O problema, re-objecto eu, é que, quando se trata de falar de coisas que ao mundo trazem e fazem bem, ficamos sempre sem assunto de conversa. Pois não é assim?
O rapaz João Loureiro prima pela invejável lisura da irrelevância. Nem é por ser gordo. Nem é por ser filho do Valentim. É por ser ele. É por ser João. É por ser Loureiro. É por ser tão BANal. É por nos confrontar com a nossa mesma irrelevância, com o nosso descuido de nós mesmos, com a nossa popularização de zeros artísticos, desportivos, recreativos, culturais e políticos. E educativos. E sociológicos. E económicos. E empresariais. E ecológicos. E agrícolas. E piscatórios. E literários. E jornalísticos também, já agora.
No fundo, talvez eu inveje profundamente joões destes. Talvez eu fosse feliz se me joanizasse, se me loureirasse. Como não, pago em arrobas de melancolia um nunca desistir de crer na força da criatividade honesta e na força da honestidade criativa. Não irei longe, assim. Eu sei. Todavia, também não é longe que quero ir. Eu nem quero ir. Quero estar. Onde? No País que não há: a utópica Mãe-Pátria onde o crime de lesa-Estado é prevenido, primeiro, e punido, depois; onde o autarcazito local não me pode impingir roubos de igreja; onde a escola me ensina a ler, a escrever e a contar para que eu possa pensar pela minha própria cabeça; onde a besta do marido rural não assassina a mulher com a caçadeira dos coelhos; onde o parlamentar é sério e trabalha; e onde o João é reconhecido como um Zé-Ninguém) igual a cada um de nós.
(Crònicazita áspera, eu sei: mas é o BAN nosso de cada dia.)

2 comentários:

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Há lapsos da tal Mãe-Pátria utópica na linguagem que, muito fora da BANalidade, vais criando e oferecendo. De graça. Thanks!

Anónimo disse...

...sem dúvida. É preciso ser muito, mas muito BANal para se ser, como dizem, famoso e bem sucedido. Fazer parte dos que nada fazem e tudo podem porque nada valem e tudo (bens) têm.

Canzoada Assaltante