27/01/2011

Ideário de Coimbra - 151 (conclusão)

Quando fui tropa, comprei numa mercearia militar um frasco plástico de pó-de-talco para o calçar das botas. Já então me tinha casado contra uma rapariga de pele muito branca. A guerra andava longe, era quase engraçado ser um homem verde fabricante à força de uma moral patriótica à base de pólvora seca. A diferença era que, então, eu tinha só 23 anos. Isso é muita diferença, considerado e cotejado o (des)arranjo actual do corpo. A geração do iPod trata-me por senhor aos balcões-dancings por onde entretenho a necessidade de chegar vivo à manhã que vier. Penso que a desautorização dos professores corresponde à cadeia plástico-alimentar. Mas agora não é disso que quero tergiversar. É dos 23 anos. Ou dos treze, digamos: muros de cal gizavam a aldeia essencial do corpo-em-moço. Atirava eu então o olhar como uma pedrada castanha. E a visão zunia como um arame de alta-tensão. Sim: alta-atenção, esta que guardo no relicário do meu coração sempre que me acontece um telefonema feliz, ou uma alegria palavrosa, ou um verso – ou afim mariquice. De modo que, Alice etc.

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Sebastião da Gama, José Régio, Cristovam Pavia e Jorge de Sena podem ser considerados conjuntasseparadamente como laranjas única da mesma laranjeira. O problema é hoje o ensino ser uma amarga brincadeira.

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No dia dos teus anos, permite-me por favor,
António Arcanjo Dias,
que o teu nome inscreva, por teu valor,
em meus versos e poesias.

Tu e eu irmãos perdemos.
Na morte e na memória, agora são
João irmão de Jorge e Jorge de João.

Esta é a prenda que te quero e posso dar:
também, Toninho, sou teu irmão:
faz favor de o aceitar.

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Canzoada Assaltante