14/01/2009

Por Falar Nisto

Casa, Souto, 12 a 14 de Janeiro de 2009

Temos de falar nisto de uma vez por todas.
Um corpo que pensa noutro corpo com uma alegria furiosa.
Um desarranjo da estrada, uma turvação do tráfico, o amor.
Uma balbúrdia.
Dinheiro para a recepção do hotel, um casaco castanho, um volume
da Agatha ou do Simenon para ler enquanto não vens de uma vez por todas.

Dizer em voz alta assim:

– Estás hoje tão bonita todos os dias.
– O que tu queres, sei eu.
– Mas no corpo da minha mulher eu amo o mar ser de ondas.
– Senhora, que guardas em casa que me possas mostrar?
– No armário tenho oiro que é o azeite do altar.
– Em casa vais, senhora, algum dia me guardar?
– Os ossos te guardarei na terra do meu olhar.


Ou então:

Que fogo e água se conjurem em vista e boca
tal que a bruma de sonhos ferva alta.


Ou então:

Somos os irmãos do meio
do ontem nascido
e do amanhã sepultado.


Dizer isto de uma voz
por todas.

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Canzoada Assaltante