21/11/2021

PARNADA IDEMUNO - 835


 



835

Vinde comigo Vós a dar a volta
pela urbana noite desmedida.
Nem sempre triste é triste o ser-se triste,
pois nem sempre sabe o nunca a nunca-mais.
Eu dou-te, Doroteia, quanto posso:
o que mais não posso, não fica por dar:
nem perto tudo o que luz vem a oiro,
da infância as pepitas perdem brilho.
E se os bons-dias te dou a cada dia,
a noite-boa quero que usufruas.
Este discurso mesmo redundante
não ofende, eu sei que não ofende.
Vem pois também daí, boa Doroteia,
junta-te a pobres amadores de versos:
é lenha pouco ardente mas é lenha
– e antes refulja um pouco que nos queime.
Sem amanhãs na ideia é que se vive,
idem d’ontens teimosos sem retorno.
Heterónimos? Ai, também os tenho:
é conforme o triste que miro ao espelho
& a quem raspo a barba com desvelos
de pai-barbeiro a filho tristonho.
O que (afinal) digo sempre se escreve
(q’ao de leve o correio sempre chega).
Nem sempre, Cação, vence o calado,
nem sempre o verso simples chega a casa.
(Nem casa é de todos a palavra
quando tornar querem a algum lado.
A algum lado vinde Vós à volta.
Etc.)

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Canzoada Assaltante