02/11/2021

PARNADA IDEMUNO - 813 & 814



813

Segunda-feira,
1 de Novembro de 2021

    Noite. Para já, noite. Os vivos visitaram os cemitérios, floriram & velaram os intervalos da chuva. Santos & fiéis-defuntos partilham o inicial par de dias do penúltimo mês. Em Glasgow, os genopatas do G20/“países mais ricos” brincam aos incendiários-planetários. Por mim & cá comigo, cuido tão-só de meus crisântemos vocabulares. Estraçalhei em devido tempo certas “oportunidades” – pois ora ainda bem!
    Noite. Por enquanto, esta. Até que uma menos efémera se me instaure de patas m’atiradas ao peito.

814

    Malgrado certa resistência (quase) subconsciente minha, a Política interessa-me. A nacional tem, é claro, primazia. Com o espessar da idade, ocorre comigo um paradoxo inelutável, este: indignação & divertimento mesclam-se em simultaneidade. Roubalheiras, indecências, oportunismos, pilhagens & pilhérias – tudo concorre para fazer do meu espelho uma espécie de altar de santo, mesmo que de-trazer-por-casa.
    Assim dado intróito a rebate, mais digo: as cenaças correntes de CDS-PP & PPD-PSD são maravilhosas. Ao avesso do que sucede no Bloco de Esguelha, no CDS não compensa a garotice inimputável. Queira-se ou não, aquele foi o partido de um Adriano Moreira – como pode, pois, ser o mesmo sob a égide creche-&-desaparece de um Chicão? No partido fundado por Sá Carneiro, a novidade é nenhuma: desde 1974 que aquele é um atol em que se entredevoram barões & tubarões… de escabeche.
    Quanto ao senhor Presidente da República, continua a ser o que de ser nunca deixou: um comentador de café com o chinelinho a puxá-lo para a feira. Qualidade suprema de Marcelo: não ser Aníbal. É uma figura de (aparente, ao menos) bem com a vida, não um espantalho ósseo-cadaveroso – digo eu sem estar a ser encomiástico.
    O resto é o resto: impensavelmente subido ao secretariado-geral da ONU, o pantanófobo Guterres, o mui católico António Guterres – lá anda nas pantalhas dos mundos de cristal. Eriça-me a penugem da nuca vê-lo em constante posição de bajulador dos oprimidozinhos, dos refugiadinhos, dos pobrezinhos – nem uma simbiose dos padres Américo & Cruz com a Teresinha de Calcutá & a Vossa Senhora de Fátima seria tão sant’antónica quanto este Guterres de crucifixante parlapiê.
    Lá fora, as anedotas de ruim-gosto Trump & Bolsonaro respondem & correspondem à inefável estupidez, aliás militante, dos respectivos eleitores seus. Na Coreia do Norte, viceja a dinastia interminável dos matraquilhos atómicos. Em Israel, Auschwitz chama-se agora Palestina. No Afeganistão, vitória dos primatas que nem para frescos rupestres prestam. França & Inglaterra (e, não tarda, os países nórdicos) foram afromuçulmanizados sem retorno. A Rússia cacareja gorilas perigosos. A China tornou bípede a vesp’asiática. Índia & Paquistão fedem. A África (toda) é irremediável. Vão por enquanto safando-se, por sua descomunal extensão, o Canadá & a Austrália, nações simbolicamente súbditas da talvez não-perpétua Senhora D.ª Isabel II.
    Não cuideis de olhar-me como salvífico messias portador de curandeira alternativa. Nem quando durmo me vejo optimista como pandorgamente o nosso Costa se mostra. Há mais de vinte anos, eu ainda penava por jornais regionais – duplamente penava: em pena de escriba como em penitência de jornalisteiro. Deixei-me disso. Fatigaram-me até à repugnância os anões mentais das autarquias pequenitas, o carreirismo merceeiro de fregueses & freguesias, o analfabetismo diplomado de repartições, churrasqueiras, associações, cenáculos, grémios, ateneus, sínodos, conclaves, estábulos, curros, currículos, versos & versículos, divertimentos & divertículos. Enojado embora, diverti-me à tripa-forra. Confesso. E ainda me acontece quando, por vezes, não durmo nem sonho que acordo.


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Canzoada Assaltante