09/07/2020

VinteVinte - 37 (integral)






37.

EM M(Ã)ELOPEIA

Coimbra, segunda-feira, 27 de Abril de 2020



Somos ilhas finitas rodeadas de infinito por todos os lados. Não é preciso noticiário que no-lo reitere. A tudo isto antes da morte podemos chamar vida. Há nomes piores.

Recebo telefonema de um dos meus derradeiros Amigos (vivos). Gratifica-me muito receber dele a voz educada, a ilustrada articulação silabante, a oratura que o unifica (& autentifica) enquanto (inter)locutor. Estamos vinte minutos nisto: como dois pássaros gorjeando-se, de remota árvore a longínquo telhado, novas não-postiças. Ganhei já o dia, mal-acabada a manhã ainda.

Depois, BBC: banho, barba, canja – tudo a quente. Restaurado, remoçado, refeito – dei rosto à Segunda-Feira: não a outra face mas ambas. Ouço vozes gravadas (não imaginadas mas concretas, vivas pela técnica): uma argentina & várias valencianas. Buenos Aires é nome referido. Outros, mas de Espanha: Alcàsser, Valencia, Burriana, Cheste, Buñol, Gandía, Altea, Cuenca. São vozes do século passado. A voz da pessoa argentina é festiva; as das pessoas espanholas, trágicas. Aquela, é de concerto; estas, sem conserto. Música maravilhosa, a do porteño; tristura agónica, a dos valencianos. Entretanto, esse século morre, outro vem, este é – tudo a frio.

M(Ã)ELOPEIA

Mão morta
Mão morta
Vai bater àquela porta

Mãe morta
Mãe morta
Entra que te abro a porta

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Canzoada Assaltante