26/09/2012

Hoje de manhã, cedo sempre, quarta-feira, 26 de Setembro de 2012


ESTA MANHÃ SEM NOVIDADES MAIORES

Leiria, manhã de quarta-feira, 26 de Setembro de 2012

I

O corpo fecha-se no sono, abre-se à chuva forte da noite cerrando o mundo de vias vivas a horas mortas. Acontece a paz longamente adiada. A vela atira rosmaninho em fogo. A cerração das pálpebras deixou arrefecer o chá. O braço não demanda na cabeceira o cigarro mas o frasco da água, a que o limão atribui na boca um rastilho de quintal-pomar.
Quando o corpo logra escapar a seus quilos, mortos & vivos barafustam no filme do sonho. Procedem todos à sua higiene terrível. Imaginam-se a cores, mas são surdos. Sabem-se mudos, mas não a preto-e-branco.
Redivivo por conta própria, o corpo torna-se um eu lento à primeira hora. A chuva nocturna lavou quase tudo. O céu nem parece de repetição. A ponte circunflecte o rio como se pela primeira vez. Ao azul-ferrete do Verão extinto sucede o azul-de-aguarela da infância escolar.
Dá-se então a cumprimentação, é-se servido de café e tabaco, procura-se um sentido novo (uma vida nova em folha/página) no jornal. Não vai ser fácil, não hoje.

II

De Marrazes para o resto do mundo, sem cuidar de atirar as pernas à ressaca do caminho feito. A mulher que enegrece a tinta-de-corvo o cabelo parado na luz da manhã. O cavalheiro que estaciona o Renault com expressão de Fittipaldi frustre. As flausinas frívolas palhetadas de extensões capilares e frias e magras como torneiras. Os abençoados cães públicos de privada cosmogonia.
Em Coimbra, a mesma coisa sem tirar nem compor.

III

Quieto périplo municiando as esperas (as esferas) consecutivas.
Uma caçadeira de palavras desfechando fumos.
Rostos incandescentes nas madrugadas vivas.
Cintos, sapatos, algoritmos inúmeros.

Sétimo-selo, profecia nenhuma, hidromel.
Tiros ao longe lascando pedreiras.
A pólvora disto cheirando na pele.
Isto repetido gerações inteiras.

A paz aos pés da mulher sozinha.
Uma lasca de sol frechando o quarto.
De sal um grãozinho ao ápice da língua.
Lírios de Alenquer & cordas de esparto.

Quando pela casa povoo de corvos
a areia de pombas deixadas a sós,
sei-me não ciente de amores novos,
que de antigos sim a uma só voz. 

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Canzoada Assaltante