11/08/2012

Uma carta de Fernando Pessoa no IDEÁRIO DE COIMBRA - 29 - Coimbra, quarta-feira, 30 de Junho de 2010



Em carta de Lisboa, 29 de Fevereiro de 1915, Pessoa diz isto ao poeta brasileiro Ronald de Carvalho (que, com Luiz de Montalvor, foi um dos directores do primeiro – e penúltimo – número da “escandalosa” revista modernista Orpheu):

Não sei que lhe diga do seu livro, que seja bem um ajuste entre a minha sensibilidade e a minha inteligência. Ele é deveras a obra de um Poeta, mas não ainda de um Poeta que se encontrasse, se é que um Poeta não é, fundamentalmente, alguém que nunca se encontra. Há imperfeições e inacabamentos nos seus versos. Vêem-se ainda entre as flores as marcas das suas passadas. Não se deveriam ver. De Poeta deve ser o ter passado sem outro vestígio que permanecerem as rosas. Para quê os ramos quebrados, ainda, e partido o caule das violetas?

E ensina-lhe isto de borla:

O Poeta é o que sempre excede aquilo que pode fazer (…) Exija de si o que sabe que não poderá fazer. Não é outro o caminho da Beleza.

Génio, génio, chuva é água.

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Canzoada Assaltante