06/08/2012

IDEÁRIO DE COIMBRA - 27 (fragmentos finais) - Coimbra, segunda-feira, 28 de Junho de 2010


Antes, um dia serei agora.

*

Jamais dês uma excepção a quem,
por regra,
nunca é excepcional.
Nem regrado.

*

Isto de ser poeta em 2010 deve ser como ser soviético no século XXI. Digo eu.

*

Diz-me (que não estás nem és, mas preciso de um vocativo, portanto diz-me): que horas são? 15h54m. Calor bravo, começa no inchaço dos pés, do mau pobre calçado. Lavar esfregadamente com sabão azul. Lavar tudo, a começar pela vida, com sabão azul. O sabão azul tem por natureza o cheiro natural das mães. A gente é parida para sabão.
Já agora: que horas são?

*

Sêmea.
Izoneira.
Juditismo.
Butos.
Cefaleia.
Gato.
& Maria Helena da Rocha Pereira.

*

Tornevó marico de salume
altira ricofache de costume.
Faguei água com mão e vei’ a lume
ter tornevado rico de sem-cume.

*

Não sou já tão novo quão minha literatura
é. Posso aliás ser tão velho quão ela
não. Sou só honesto nisto, nesta
porra de todos os dias buscar o novo,
a literatura, pura puta de nenhum
aluguer. E, para mais, mulher.

*

Estou a repetir o n.º 210 da Rua Antero de Quental, mas vinte mais quatro anos depois.


*

Nisto tudo, com isto tudo, que horas são/serão, São?
Roça a noite seus minguados corpos, suas reses minguadas – e eu nada que ver com isso, eu de fora.

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Canzoada Assaltante