25/03/2010

De Perth ao Longe (4)

© Sandra Bernardo – Estação de Pombal em 21 de Fevereiro de 2010

4



Pombal, tarde de 22 (versos) e manhã de 25 (prosa) de Março de 2010





Com fragor de breve século termina o dia,
adoça o sol cadente rebuçado.
Nos pátios enxuga vestes a luz final,
é bom estar vivo ainda neste corpo.


Uma doçura esparsa é toda aroma
de urzes e giestas visitadas.
Fui hoje a Ansião, voltei ileso,
é bom ser corpo ainda nesta vida.


Madrugarei por gosto de alvor,
secular e lareiro de meu lume.
Em casa, as coisas vivem arrumadas,
é bom sentir da louça o brilho de água.


Calado hei-de consultar a manhã nova
sobre o corpo já cinza da noite antiga.
E depois hei-de escrever outra cantiga.


O corpo é quanto barco temos para a travessia do estreito que é viver entre a margem da primeira luz e a luz da margem derradeira. Veículo e viagem ao tempo mesmo, indiferente é que o corpo resida em um quinto-andar de Queluz ou numa vastidão aborígene.

2 comentários:

Joaquim Jorge Carvalho disse...

Muito bem (as usual).
Contudo, acho que não é indiferente a residência (provisória que seja) do corpo. A viagem fundamental, é verdade, faz-se por dentro do barco que a gente é; mas o lado de fora contribui para descobertas, naufrágios ou perdições a haver. Não concordas?
Abraço!
JJC

Daniel Abrunheiro disse...

Concordo, claro. Tenho a minha conta disso tudo: por fora como por dentro, King.

Canzoada Assaltante