03/01/2010

Horizonte de (E)Ventos


Praia Fluvial em Coimbra- anos 40 do século XX








Souto, Casa, tarde de 3 de Janeiro de 2010





Das bandas do mar imaginado chegam naves estelares.
Chamam horizonte de eventos ao que acontece no imo
dos buracos-negros, que dizem ser a gravidade (e)levada
além do extremo mais inimaginável, as coisas que os telescópios
e as televisões mostram, digo, acabam por se parecer muito
com incertas partes de certos sonhos.
Hoje não vou uma vez mais ver o mar verdadeiro nem conferir
a estelaridade imaginária das naves, nem ferver senão
alguma chávena de chá contra a presença molhada do (e)vento
nos pavilhões auditivos, além da varanda e do horizonte de
(e)ventos.
Está tudo bem.
Hidrogénio, leucemia infantil, torneio de sueca
sábado e domingo
na associação cultural recreativa desportiva e social mais perto
de si,
Julie London sobreviveu quatro anos à morte da filha Stacy.
Naves e aves, muito podem os sonhos e as imaginações e os
telescópios e as televisões.
Aos domingos, resiste-se à vida subindo a pé a Rua de Aveiro até
à Conchada, altura da Cidade onde se pode comprar que fumar
e passear lendo lápides no altaneiro cemitério.
Pela Nicolau Chanterene também se pode ir até Celas, tudo faz
parte, afinal, da Via-Láctea, flana-se e plana-se pela Guerra Junqueiro,
depois a Antero de Quental até essoutro buraco-negro chamado
Praça da República, batendo o mar nas costas do Jardim da Sereia.
Acho eu que ruas e galáxias se parecem muito, tanto, a ponto de
serem as mesmas flores, digo,
naves.
Astros e marcos do correio, cabines telefónicas e matérias difusas,
um chapéu e um ano-luz, o senhor Ramiro e Andrómeda,
a terça-feira nublada e a nebulosa límpida, o sapato e o quasar,
o núcleo sportinguista e o núcleo atómico, a ilha e o quadrado
da distância.
Pessoas há de muita carga positiva.
Julie London primeiro casou-se com um senhor chamado Jack,
depois com outro chamado Bobby, Webb aquele, Troup este.
As constelações também são chamadas:
Cassiopeia, Ave do Paraíso, Centauro, Pomba, Cefeu, Mosca, Oitante,
Cabeleira de Berenice, Orion, Fénix, Retículo, Tucano, Perseus, Pégaso.
São como as pessoas:
Karen, Talita, Ganimedes, Magda, Edna, Valério, Basílio, Carlos,
Odete, Herculano, Ibraim, Raquel, Faruk, Abelardo, Laura, Úrsula.
São como as ruas e as avenidas da Cidade:
Sota, Sargento-Mor, Santos Rocha, Navegadores, Moçambique,
1º de Maio, Carlos Seixas, Fernando Namora, Dias da Silva, Cidral,
Santa Tereza, Corpo de Deus, Verde Pinho, Direita, Moeda, Corvo.
Astros do correio, telégrafos e telefones de Mercúrio, saudades
de gente adormecida ao Alto da Conchada, ventos e eventos dando
altos sobre pano azul, abóbadas e abcissas e aves e naves e Rua
Adelino Veiga,
em pleno mar-alto como o céu
alto.

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Canzoada Assaltante