21/09/2005

Conversas Cônjuges - 1

Devíamos ter tido filhos.
Nós temos filhos: tu tens um, eu tenho dois.
Eu digo um com o outro.
O que está feito, está feito.
Eu digo: o que devia ter sido feito.
Não vás por aí. Sofres com isso?
Não é sofrer. Às vezes, parece-me que seria como ter escolhido um gato.
Ou um canário, não? Filhos, não é como bichinhos.
Acho que sabes o que eu quero dizer.
Não. Só sei o que dizes. Não o que queres dizer.
Tens tanta razão como crueldade.
Crueldade? Exagero.
Não estamos mais novos.
Li numa revista que é uma questão de espírito.
Essas revistas são traduções feitas por estagiários jovens.
Não interessa com quem fizemos os filhos.
Não?
Não. Desde que os tratem bem quando lhos levamos.
Fácil para ti.
Não, nada fácil. Só que não vivo emperrada no passado.
E eu vivo?
Às vezes, até quando é do futuro que falas me parece que é no passado que estás.
Gostava de ter tido filhos contigo. No passado.
Ai senhor.

Tondela, tarde de 20 de Setembro de 2005

1 comentário:

Canzoada Assaltante