12/07/2022

H. EM BUSCA DELFIM - 14

© DA.


Homens nos semáforos esperando a luz vermelha para pedir esmola aos primeiros carros das filas obrigadas a espera. Do dilúculo ao crepúsculo, esses seres desavindos para com a(s) fortuna(s) do mundo. E de Janeiro a Dezembro. E do berço, se algum, à vala-comum, mais certa. O silêncio desses homens de multiplicada-por-zero-solidão. Como pombas – mas sem asas nem céu. Hermínio mira-os em espelho. O que por aí vai de (in)existências! Nevertheless, the show must go on, as is often said por-aí-além. Uma pouca de sol houve ainda no dia frio, de frias aragens corridas algo algidamente. Foi pela tarde, já perto das dezoito. Hermínio recolhera-se a recanto propício a miragens de homens esmolando-se. Nem grande susto nem acalentada esperança. Nada por nada, nicles-por-batatóides. Em casa, quem com casa. Sob os viadutos, ciganos & gentios adensando as trevas. Profanação da mais ligeira expectativa. Ambulâncias, carros-de-patrulha, trotinetes-eléctricas, século-XXI-em-glória-plena. Algumas excepções no sentido solidário: mato-anonimato. Regra-geral, obnubilação de existências.  Espécie de sibéria-do-grande-capital. Ou coiso. Uma vez escritas, estas linhas nem ajudam nem prejudicam. Trata-se tão-só de Hermínio vocando a Delfim horas menos boas. É aquele tornando este partícipe de circunstâncias esquecíveis.

 


 

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