03/06/2021

PARNADA IDEMUNO - 430 a 432

© DA.


430

Quarta-feira,
2 de Junho de 2021

Ignávia alguma pode tolher-me agora a função
Agora que o tempo ainda me intervala da morte
A morte que é tão-só redistribuição de materiais-de-construção

Fica o quem se foi naquilo que se deixou feito
Feito depois desfeito, refeito, redistribuído
É imperecível a matéria, não a provisória organização

Sendo isto a verdade possível, saudoso sigo de perdas
Gente que pude amar sem negócio, interesse ou dízimo
Pessoas ora distribuídas por a terra, o ar, o lume, a chuva

Obstinadamente se demoram na minha gramática
A ponto de me permearem o próprio nome, certa parecença ao espelho
Quando raspo a barba, quando o meu Pai me vê a meus olhos

Ou então outras coisas passíveis ainda de escrita tentada
Não me faltando lápis, tinta, papel, tempo-enquanto
Entrado à liça o Junho deste século-terminal, dúvid’alguma.

431

Sete anos em casa emprestada, empestada depois pela degradação.
Dela sai contudo vivo, nos braços ambos da incerteza embora.
Tanto dá ser 1888 quanto 1935 quanto amanhã, calhando não hoje.
Empedrado, o pátio das cavalariças surge à azulácea alva grisa.
Por & para onde agora, não conte ele que algum leitor lho revele.
Nem lho revele, indique, assinale – nem bem menos ampare.
As poderosas leiteiras ruminam no vale do país-local.
É bonito & frio, em vão ressoarão palavras de aqui (pro)feridas.
Moucos pavilhões ex-auditivos reforçam a acuidade desconfiante.
E o que se seguir, se se seguir, seguir-se-á a ponto de verso inaud’ileg’ível.

432

Matéria que a luz pinta para encanto dos pobres mais sensíveis
De cada dia a cenografia varia também pela atenção
Algumas cenas afectam os sempiternos hipersusceptíveis
Nada porém que justifique qualquer procrastinação.



Sem comentários:

Canzoada Assaltante