19/12/2011

ROSÁRIO DE ISABEL E DINIS seguido de OUTRAS FLORAÇÕES POR ESCRITO - 1 - Coimbra, 8 a 15 de Março de 2011 - (II-4)



II-4 

Algo na cabeça dele (como que um elemento exterior) lhe diz:

– Quero matar a morte dos meus mortos, querida.

Espera ouvir dela:

– Deixa-os morrer, pois que te amo.

Ouve dela:

– Deixa-os morrer, pois que te amo.

É outra vez terça-feira, ele pára na rua.
Ele é o velho das laranjas, um corvo em cada ombro.
E então: o que é isto, o que é isto, que será isto?
É o frémito das laranjeiras debruadas a azul-chuva na voragem das terças-feiras.
É a beleza olímpica do cavalo.
É a sessão-contínua da consciência.
É ter morado tempo de mais em quartos sem janela.
É ter ido de comboio a caminho de mulheres que não eram a dele, esta.
É eu não ser o elemento exterior mas a tua notícia, a tua sombra, o teu cão.
É isso e é isto e isto mesmo.
Algo na minha cabeça feita coração.

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Canzoada Assaltante