04/04/2011

Ideário de Coimbra - 153 (fragmento 2)

SONETO DA DÍVIDA COMPLETA

Cumpro a noite como a uma dívida segura.
A argêntea humanidade me obriga a pensamento.
(Está frio hoje, espera um momento,
que tem cura a tristeza, a tristeza tem cura.)

Pantufa de ouropel, o meu coração
patinha veludos em tua direcção.
(E pelas noites avento o vento, que é frio
mas me resguarda da ânsia, da fome e do cio.)

A miséria generalizada
infecta milhões de seres-sós.
Não pode a poesia ser voz

deles. Nem o pode Jesus. A cada
ser (como eu, como vós)
compete voltar a ser como nós.

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Canzoada Assaltante