20/08/2010

Rosário Breve nº 168 - www.oribatejo.pt



Fecha os braços, ó parolo!

Determinado banco da nossa praça comercial e financeira garante receber-nos de braços abertos. E determinado homenzinho abre os braços no cartaz para ilustrar o chamariz. O homenzinho é o Tony Carreira. A isto chegámos. Caramba, a isto chegámos.
Antigamente, ainda tínhamos o Tony de Matos. Com o descalabro galopante do 25 de Abril de 1974 e com a selvajaria também galopante do capitalismo, a pimbalhada parece ter-se tornado obrigatória.
Digo-vos, e garanto-vo-lo por minha honra, que nada me move contra o tal homenzinho. Até o acho simpático, coitado. Mas é que gosto mais do Tony de Matos, que sabia cantar. Este banco e este Tony não sabem nada. Este País também não sabe nada. Não sabe nem quer saber. Saber faz doer, parece.
Mas ainda não perdi de todo a esperança. Quero dizer, do 25 de Abril espero nada. Desse e dos outros dias todos do ano, todos os anos. Mas pergunto-vos isto: não seria absolutamente encantador que o Tony Carreira, pago à fartazana pelo tal banco, começasse a trovar cançonetas baseadas em poemas de, digamos, Keats, Marcial, Eurípedes, Safo, Tasso, Wordsworth, Petrarca, Catulo, Lorca, Blake, Ronsard, Colonna, Píndaro ou Thomas? Hm?
Que me diríeis?
Penso que ele não irá por aqui. Porquê? Porque nem ele nem o País conhecem Jorge de Sena, nem José Régio, nem Bernardo Santareno, nem o matemático Pedro Nunes, nem a revolução neurocientífica desbravada por Egas Moniz (não é o da corda ao pescoço, é o médico e biógrafo de Júlio Diniz), nem quem foi Ana de Castro Osório, nem Maria Amália Vaz de Carvalho, nem ninguém que valha a pena.
E eu já nem pena tenho. Nem do Tony de agora, nem do País de antigamente, que por acaso era um sítio com futuro antes da selvajaria da ignorância obrigatória. Era, era. Mas já foi.




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Canzoada Assaltante