19/08/2022

H. EM BUSCA DELFIM - 73

© Berenice Abbott




73

 

Eis H. súbdito involuntário de estéril pasmaceira dominical. Vale-lhe que, trabalho, só na terça-feira de manhã. Tosse cavernosa & corrimento nasal. Arrepios térmicos que o melancolizam. Nenhum desporto que pratique. Facilidade nenhuma. Dia penoso. E no entanto há que r-existir.

 

R-existir, sim.

Não hão-de ser muitos os anos-em-branco.

A vida não está para isso.

Alguns livros por ler ainda, boa fortuna.

Raras conversações com rara gente valorosa.

Nenhuma receita, sortilégio nenhum.

 

Chorar nada, lamentar nada.

Levantar a própria sombra, levá-la a recado.

Ir ganhando moedas até denúncia contratual.

Planear nada, esperar coisa alguma.

Nem mulher aparelhada à mão-esquerda.

Fastio aparentemente insolúvel.

 

Quando pode, enquanto pode, H. revisita o bairro de sua criação infanto-juvenil. Mira a Escola Primária (hoje sem crianças, encerrada). Encontra rapazio da sua geração. Horas escuras. Regressa a pé a seu Quarto-Casa, lá onde seu paterAvô etc.

 

Saudade pungente de meus animais tão amados.

Solidão até óssea, oxidada, ominosa, sem rosa.

Baralhar & dar de novo as cartas da minha vida.

Que rumo? Que recomposto atavio?

Nem farda nem fardo.

Chorar nada, lamentar nada.

 


 

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Canzoada Assaltante