31/12/2021

PARNADA IDEMUNO - 860 (mutilado, por haver partes a dar para o escatológico)

© Garry Winogrand

860

Segunda-feira,
27 de Dezembro de 2021


    Também flatulência é fluência.
    Posto isto, sigamos.
    Os que papagueiam acefalamente que “uma imagem vale mil palavras” – necessitam de palavras para dizê-lo, imaginem…
    Sosseguemo-nos, todavia: o Nada de que viemos, a Nenhures nos há-de levar.
    Hoje, preterizado já o infame natal-de-todas-as-hipocrisias, dei-me (ou vi-me) de novo presa de conjecturas sobre que livro(s) escreverei na próxima anúria, se lá chegar. Tentarei resistir ao apelo diarístico. Lográ-lo-ei porém? Sei uma coisa já: a alternância prosa/verso não cederá vez a qualquer outra rabiscanhice. Só posso ir por ela. Só quero ir por ela. Enquanto se me/nos não dá por adventício o 2022,
    Certo pinheiro-manso, em certo pátio,
    secreta ave que alberga às escondidas.
    Ser Eu é ser nuvem, não é ser sítio:
    já nome de Eu tiveram muitas vidas.
    Sei ínfima a gravura entendida
    por o humano olhar mais absorto.
    Viver, sendo entreter a própria vida,
    só escapa ao morrer depois de morto.
    ’ma lâmina de sol de fura-nuvens
    ’mana de Santa Clara a ocidente.
    E eu só sinto pena daquela gente
    que ladra ao onde-vais & ao donde-vens.
    Raparigas de há sessenta anos
    lendo cativas a Corín Tellado:
    o mesmo fiz eu, sendo ’inda magano,
    lendo o Eugénio & o Torga aqui ao lado.
    (...)

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Canzoada Assaltante