14/02/2021

PARNADA IDEMUNO - 44 a 46 (conclusão de 13.2.21)



44

    Um chamado Pragal ajuda os velhotes isolados na falda da serra, dá-se a oriente o pouco casario, que de manhã recebe em cheio a púrpura do renascimento. Ajuda-os portando na carroça coisas que eles não podem fabricar, mercearias mais raras, remédios, utensílios – e correio. Pagam-lhe com ovos, pitas, laranjas, nêsperas, alguma pecita de ouro-velho. As partes entendem-se, não houve jamais razão para barulho. Nem para literatura, verdade seja dita.

45

No imo de casas vai moendo-se a si mesmo o lume.
Em a de Bruno Canto, parece azul a paz sonhada.
Nada o demoveria de aqui restar sendo de si o nome.
Medíocre apelo o não caça, não já, nesta vida.

Outra não há.

46

    Havia perto daqui (sendo aqui o papel onde é escrito) duas irmãs vivendo juntas. Ambas eram de bondade. Tomavam conta de uma retrosaria pequenina como um berço – e inocente como este. Agulhas, rendas, botões, panitos de cozinha: como meninas brincavam elas, que filhas não tiveram. Passavam os julhos na Figueira da Foz. Era na Travessa dos Banhos que arrendavam uma caixa-de-fósforos com açoteia para a vilegiatura. A morte de uma chamou, em sete semanas tão-só, a da outra. Houve genuína consternação: se não no bairro, neste caderno sim.

Sem comentários:

Canzoada Assaltante