01/07/2008

Hôtel de Saint Louis


Casa, Viseu, noite de 1 de Julho de 2008


Não desconheço a auriflama da cebola vermelha francesa
Não desconheço o alho de dente único chinês
Não sou insensível à gemebunda grávida esmoler portuguesa
Tenho pelas nações um respeito grave e cortês.

Já dormi num hotel da cidade, esqueci que hotel que cidade
Já troquei pão e legumes e leite por um cigarro
Já muito conheço quanto a quem esqueço por vontade
Prefiro de longe o comboio e a tipóia ao carro.

Nunca mais virás comigo ver esta praça amanhã
Nunca menos fui como agora metade de nós
Nunca tanto amei a família e a buganvília e Chopin
Recebo aos sábados na sala onde os retratos dos avós.

Talvez as frases que recolho pela cidade no caderno preto
Talvez elas me salvem de ser um ter um ter-sido
Talvez de mais derive, por vezes desconheço onde me meto
Mais de uma vez me dei por perdido.

Mas ainda gosto da baforada alimentícia das mercearias
Mas ainda rio como uma bandeira ao vento do país
Mas ainda há frescas manhãs e forneiras tardes e noites frias
Amanhã na praça serás ainda assim feliz.

1 comentário:

Manuel da Mata disse...

Gosto destas cinco quadras, que não são lançadas em alexandrinos exatos, mas que me trazem à mente esse grande cultor oitocentista de alexandrinos.

Canzoada Assaltante