25/06/2005

As vergonhas simbólicas

José Carlos é um rapaz com vinte e poucos anos. Alto, forte, formoso, José Carlos é, ainda, o modelo do bom gigante: um coração da cabeça aos sapatos. Vendedor de publicidade comercial e desportista de bom plano, José Carlos toma por amigos todos quantos se lhe demoram perto de cinco minutos apenas. Foi a este moço de boa cepa que sucedeu, há coisa de dias, um caso exemplar.
Um problema de saúde levou-o a procurar a sua médica de família. A médica não estava. José Carlos foi atendido por uma colega da dita. O problema de José Carlos não era grave, mas localizava-se naquela zona do corpo a que o nosso bom devoto povo chama as vergonhas. Por palavras outras, a moléstia de José Carlos era precisamente na...quilo.
Na consulta, a médica substituta fez muitas e variadas perguntas de pormenor ao doente: se tinha borbulhas, se dava comichão, se estava da cor escarlate, etc. José Carlos foi dizendo que sim e que não. A consulta acabou com uma receita de pomadas e comprimidos. Mas (e é aqui que bate o ponto) a entrevista clínica chegou ao fim sem observação visual nem toque material directo nas partes afectadas.
José Carlos, tão meu amigo como leitor meu, sabe ser-me costume dar atenção e voz às partes envolvidas em casos como este. Vai daí, veio contar-me tudo. E perguntou-me se eu não achava estranho que uma médica se limitasse à despistagem teórica de um aborrecido mas, afinal, palpável.
A única coisa que percebo de medicina é andar doente, de vez em quando. A minha ciência acaba aí. Nada entendo do outro lado, o muito nobre lado do parecer médico. Mas o acontecido com o José Carlos fez-me lembrar, sem remédio, alguns políticos deste nosso país. Na verdade, bastas e repetidas vezes referem os políticos (alguns, não todos, quase todos) as moléstias sociais que afligem o país e os paisanos. Ou seja: falar, falam; perguntar, perguntam; receitar, receitam.
Mas pegar na coisa, está quieto.

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Canzoada Assaltante