24/09/2015

Rosário Breve n.º 424 - in O RIBATEJO de 24 de Setembro de 2015 - www.oribatejo.pt

Como, pequeno, chocolates

Momentos há e hei em que não padeço de metafísica. O desencanto da idade favorece-me pontuais clarões de raciocínio mais terreno. Do preço das conservas à recusa (por razão de higiene mental) de assistir a debates eleitorais, recrudescentes vertentes pragmáticas despoetizam-me cada vez menos raramente. Isto tem, é claro, seu preço, que não é o da chuva nem o da uva-mijona: distraindo-me menos, contraio-me mais. É mesmo assim, podeis acreditar-me.
Vivemos tempos de comunhão entre música e pulseiras: electrónicas estas como electrónica aquela. Por seu lado, a dita “Imprensa de Referência” serve. Servir, serve. Não presta – mas serve. Serve o quê? Serve a quem? Ao cidadão, não. Ao empreiteiro, ao sucateiro, ao banqueiro, ao pantomineiro – sim. Não gasto nem gosto dela. Em alternativa a tal lixo tóxico, passeio-me. Não por distracção, não para segregar utopias. Sim por lucidez, sim por contemporização para comigo mesmo.
Olhando a montante como a jusante, assisto à podridão recrudescente dos rios – pelo que não peroro sermões a peixes aliás mortos. A honra agrava-me a solidão. Mas não é só que estou, note-se bem. Há mais gente honrada (e bem melhor ela do que eu) que ainda é cívica, que ousa ainda ser pró-activa. Santarém tem, aliás, dado cartas exemplares neste campo. Andam por aqui pessoas despartidarizadas que mostram, demonstram e intervêm até. Não cuida, tal gente, de politizar a cidadania, mas sim de civilizar a política. Se são “esquerdelhos”? Se são meramente “megafónicos”? Se são tão-só um punhado de reformados que não cedem ao langor do bingo jogado em pantufas? Talvez. O que sei de fonte-limpa é que limpam fontes, tais pessoas. Promovem cultura viva, agremiam encontros, confrontam o Olimpo pouco limpo dos “democratas” eleitos com as evidências da terra, os fumos do ar, a recorrência dos fogos e a putrefacção das águas. Em Santarém, que é no Ribatejo.
Por causa dos interesses “geoestratégicos” da Guerra-Fria, a Península Ibérica perdeu, a partir de 1945 (no pós-II Guerra Mundial, claro e portanto), três décadas preciosíssimas: salazarismo e franquismo duraram até meados da década de 70/XX. Como não vale a pena chorar sobre o leite derramado, nova oportunidade nos foi dada, a nós Iberos, em 1974 e em 1975. Que fizemos nós? Continuámos fantoches de tiranias, mais adocicadas estas porém: alegadas uniões supostamente europeias furtaram-nos a soberania, manietando-nos, a nós títeres, mercê de muita areia nos olhos, muita palha na boca, muito cotão nos bolsos e muito ontem no dia de amanhã. O resultado estaria à vista, não fôra tanta areia em tanto olho.
Mas calma. Cuidado com a amargura. A amargura pode ser existencial, mas não tem de ser essencial. Primeiro, o físico; o metafísico, depois.
Sim, tenho comido chocolates como a pequena do Álvaro. Mas palha – não, não a como. Falta-me o vegetarianismo acéfalo & acrítico para tal. Nem sou bipolar, nem vou em bipolarizações do “sistema”. O preço da lata de cavalas é-me mais crucial do que o que diz o PS+D. Entre o pão e o circo do velho latino Juvenal, acho prioritário o pão. Não é o biscoito. É o pão. Se não abundância para todos, suficiência para todos. Com parcimónia, a vida dá q.b. de si antes da inexorável morte, esta sim democrática, justa e irremediável. E para todos.
E pronto: lá voltei às minhas metafísicas tolas. Mas não faz mal. É bonita a manhã de Setembro. Já escrevi. Agora, vou passear – coisa cuja imitação vivamente recomendo a certa imprensa e a certa cam(b)ada de parasitas, que todos sabemos quem são mas que também, por areia e/ou por circo, teimamos merdafisicamente em reeleger.
Agora eu é que não, Álvaro, que pequeno já não sou. 

1 comentário:

Daniel Abrunheiro disse...

https://www.youtube.com/watch?v=0jjE-2FqqpM

Canzoada Assaltante