21/10/2014

Entrada n.º 55 (da manhã de domingo, 12 de Maio de 2013) do caderno 16 da série Leite dos Santos

55

Ib.


É raro agora pedestrar-me por Coimbra em podografia,
a vida é ora para mim sinonímia de Leiria e
e, como em toda a parte me aconteceu, o domingo é tristonho,
espécie de solução de descontinuidade entre a morte e o sonho
até as pombas pela Cidade parecem macilentas &
mais lentas, é como se pensassem sentindo que não

gostam do que sentem pensando-se pessoas.
De fêveras fracas é a flausina que veio
aquaminerar-se sem grandes maneiras educadas,
a primeira coisa que fez, ainda nem se sentado tinha,
foi ir à mesa dos três carecas cravar um cigarro,
foi esperta, evitou-me num soslaio por ter percebido logo

que eu estava com cara de pomba ao domingo pensando-se
poeta ou, o que é pior, pessoa normal.
Deu-se já ao deus-das-coisas-para-nada o meio-dia,
hoje o sol já ferra, seria bom ver o mar sem precisar 
dele, como quase tantas vezes nos acontece a quase todos,
ao contrário quantas vezes da vida, de que a gente precisa 

sem a ver.
Pensei há pouco em Coimbra só porque sim,
se fosse como nos meses em que esperei a morte da Mãe,
hoje seria dia de levar ao Café S. Paulo o bornal,
e ao senhor Manuel & don’Adelaide o mesmo,
e sentir a lâmina do Mondego entrando, azul-pomba, no peito.

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Canzoada Assaltante