13/06/2013

Rosário Breve n.º 313 - in O RIBATEJO de 13 de Junho de 2013 - www.oribatejo.pt



Exemplares (&) portugueses

Estou certo de que o farei para o resto da vida. Digo: a observação avulsa de exemplares portugueses. Em pessoa(s), claro. Ruas & Cafés constituem as torres-de-vigia ideais para a consumpção do mirone observatório. Revisto-me, para o efeito, de discreto vestuário (cinzentos, castanhos, azuis obscuros) e ponho-me a receber de boca fechada (em cujo imo se abre a Língua) o aparato mundial à escala local.
O primeiro exemplar de hoje é uma febra pequenita de seus/dela cinquentas e picos. Ardem-lhe por faces duas rosáceas sanguíneas, a que presidem uns olhos aguados e tristolentos amaila cera amarfinada de umas orelhas pingonas e ratiformes. Inquiro dela em sede da Rosa do Colonial, que dela me garante a bonomia pessoal, não obstante certa vocação para o encornanço de quanto macho lhe logrou cravejar até hoje (até ontem mesmo, digo) a (de)posição horizonte-ventral. Chamemos-lhe Dina. Dina Men.
O exemplar segundo é um ronceiro barrigudo de pelagem arbustiva (peito, barriga, pulsos, sobrancelhas, pezunhos) com muitos anos de França mas nenhuns de Voltaire ou Prévert. Arca-encourou umas milenas jeitosas. A primeira coisa que fez no retorno definitivo ao torrão pátrio foi contra o torrão pátrio: votar no Cavaco, passando depois a eleger os seus (dele, Cavaco) derivados, incluindo os do PS. Usa botinas de elástico preto envernizadas a cuspo e boné à Pedroto. Tem mais q.b. do que q.i., pelo que investe em tremoços o que pelo mesmo preço lhe ficaria em camarões. Chamemos-lhe nomes.
O terceiro espécime, encontro-o sem surpresa nem alarde ao espelho do lavatório do Café. Finge um olhar que já tive e de que só me sobraram os olhos bagáceos e piscos. Conta-que-Deus-não-fez, este n.º 3 arroga-se colunista encartado, arriscando em verso o que lhe não sobra em prosa ou raciocínio fundamentado. Veste todavia com razoável discrição: cinzento, castanho & obscuro azul. Chamemos-lhe Vazdeluiz.
Servirá este penúltimo parágrafo de recensão sinóptica ao motivo vero da presente crónica: ser português tornou-se, de vez, um ofício triste. É verdade que nos barbeiros ainda o Jornal de Notícias serve de evangelho, mas a delícia porno-rosa do Correio da Manhã é que enxameia os Cafés e as almas de uma enxúndia crápulo-criminológica cuja suma nadice é homiliada aos domingos por esse portento da vacuidade Moita Flores chamado (sempre a páginas dois). É por igual verdade que a manjericação santantoninha perfuma de assada sardinha o País que sobra de Lisboa, a Macrocéfala sem Cabeça, mas o mais é a maltosa de aquém-Aveiras e de além-Barreiro ter de lhe(s) pagar as Expos, as (a)Fundações Soares e afins rendimentos máximos garantidos. No fundo & por cá, tudo é verdade, a começar pela mentira. Nisto, o parágrafo cede vez & voz ao epílogo aliás discretamente preparado: o trocadilho em tríade para bom entendedor. Esta porra toda para que:

nem isto Portugal, nem eu Camões, nem ela Dinamene. 

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Canzoada Assaltante