19/07/2012

Rosário Breve n.º 268 - in O RIBATEJO - www.oribatejo.pt


Por mim, está na altura

O Estado é maior do que o País, o País é maior do que a Pátria e a Pátria é só do tamanho da Selecção da bola, a qual, por aliás meritória e nacional coerência, perde sempre nos momentos decisivos, à imagem de Pátria, País e Estado. Tirando isto, está tudo bem.
Está bem o corrente Verão, cujos quase-40 graus centígrados amanteigam a luz e entorpecem o ar de uma textura sedativa, narcótica, soporífera e estupefaciente em tudo idêntica à da prosódia sí-la-ba-a-sí-la-ba do sr. ministro das Finanças.
Está bem o Facebook, inçado como anda de “revolucionários” que carregam muito mais vezes no botão do “gosto” do que botam os olhos & as mãos & os pés & tudo nas ruas-manifs.
Estão bem os retalhistas de botijas de gás, cujo consumo disparou (ou explodiu) desde que o pessoal, em vez de cartão, começou a ir com elas, mais isqueiro, ao multibanco.
Estão bem os pintores da construção civil, os quais, a 5 € à hora, já ganham mais 77 cêntimos do que os enfermeiros por igual fracção de tempo de trabalho.
Estão bem as senhoras que pela berma das estradas alugam a sacudida imitação do amor, já que os alegados filhos delas se reformam todos cedo e bem.
E estão bem os e as que morreram antes desta edição do jornal estar no prelo, imunes que ficam, finalmente, à envergonhada pobreza imerecida e à angústia de terem criado as filhas para isto, sendo “isto” o andarem elas, pelas bermas das estradas, alugando a sacudida imitação do amor em prol dos filhos etc.
Eu acima disse “tudo bem” – mas não é verdade. Ele há excepções.
Estão mal os pedófilos, porque as crianças acabaram e já ninguém está para fazer mais.
Estão mal os incendiários, porque já ardeu tudo o que havia a arder, a começar pelo futuro.
Estão mal os mestres-professores-Bambas-Karambas-Makukulos, porque a Maya cartomante não arreda os pezunhos da SIC (e sempre é de borla, embora não acerte uma prà caixa como o Sá Pinto).
E, se não mal, também não há-de andar grande coisa esse manso avatar da “tranquilidade”chamado Paulo Bento, cujo onze supostamente nacional já nem uma Betesga ganha, quanto mais um Rossio.
Isto tudo que digo há-de ser verdade – a não ser que alguém da Rádio Renascença se lembre de pôr o senhor ministro das Finanças a fazer os relatos dos jogos de Portugal contra a Troika. Porque, com esta a dormir, de certeza-certezinha que ganhávamos. E porque, a dormir, tudo e todos somos da mesma altura.
Até que decidamos que está na altura de termos e sermos de outro tamanho.


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Canzoada Assaltante