09/04/2012

LIGAÇÃO À MEDUSA - 24 (integral)



24. ÓBOLO

Leiria, sexta-feira, 16 de Setembro de 2011

Atirou-me a esmola de esmeraldas dos seus olhos verdes, que recolhi por debaixo do bolso esquerdo da camisa. Mas isso não foi agora – e não volta, isso.
Agora, da sala traseira do salão de café, chega-me a vozearia bagaçocervejeira dos bilharistas, esses bebedores matinais que põem giz azul na ponta da manhã cinza.
Agora, sem sinal stop, o tempo é de emalar e partir para dentro seja do que for e de quem for: pelo fraseado, naturalmente.

*

Os grandes hotéis e eu reconhecemo-nos por fora um dos outros.
Termas, casinos, justafluviais salões-de-chá: tugúrios do repouso activo de quanta estesia, Maria.
Disponho ainda de algum tempo.
Os bilharistas trabalham como primevos cristãos nas catacumbas alcoólidólatras dos cafés de província, bezerros-de-ouro-de-latão adorados por mulheres que eles violentam sem remorso nem memória.
Viajarei hoje um pouco mais.
– Hoje é dia de bacalhau lá em cima no Coiso – diz um homem pequenito e quase vil a um reconhecido vilão faz-nenhum cá da parvónia.
– Pois é, mas hoje não posso –
desaquiesce o vilão, que, de casaco branco com nódoa de rosa seca (do mesmo lado do peito onde arrecado certo óbolo de esmeraldas), acende a fósforo-de-cozinha uma cigarrilha-café-creme.  

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Canzoada Assaltante